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Artigo: Um Brasil doente, com 13,5 milhões de desempregados

O escritor Augusto Cury escreve sobre a angústia do desemprego

Por Augusto Cury
Atualizado em 10 abr 2017, 18h23 - Publicado em 10 abr 2017, 17h53

Somos um Brasil doente pela insensibilidade, pela corrupção epidêmica, pela necessidade neurótica de líderes de se perpetuar no poder. Somos um Brasil doente pelo imediatismo, pela falta de projetos sustentáveis para pensar o país de 2050, 2100.

Somos uma nação doente, racionalista, incapaz de preparar coletivamente seus atores para entender que só é digno do poder quem se curva diante da sociedade para servi-la e não quem usa a sociedade para ser servido. A existência humana é dramaticamente curta para ser vivida e tremendamente longa para se errar. E erramos muitíssimo por não entendermos a complexidade e a brevidade da vida.

Em minhas conferências no país e internacionais sempre abordo que a sociedade de consumo asfixiou a essência humana, tornou-nos um número de identidade, de cartão de credito, de passaporte, um consumidor em potencial. Não é sem razão que estamos diante da geração mais triste que pisou nesta terra, embora, paradoxalmente, estejamos perante a mais notável indústria do lazer. Não é sem motivo que de acordo com o instituto de pesquisa social da Universidade de Michigan uma em cada duas pessoas, ou mais de três bilhões de seres humanos, desenvolverão um transtorno psiquiátrico ao longo da vida. Estamos nos tornando um manicômio global.

Nossa essência, resiliência, capacidade de proteger a emoção, estão dilaceradas nessa sociedade cartesiana, racionalista. Temos sido um número diminuto nas estatísticas dos institutos de pesquisas, nas políticas socioeconômicas dos governos.

Recentemente saiu mais um dado: 13,5 milhões de desempregados no Brasil. Um número seco, frio, destituído de sensibilidade e solidariedade! Não são 13,5 milhões de desempregados, mas 13,5 de seres humanos abarcados por angústias inexprimíveis, de pessoas assombradas por pesadelos inenarráveis. São 13,5 milhões de mentes estressadas, de famílias fragmentadas, de pais que regurgitam o desespero, de crianças que deveriam estar brincando e se aventurando, mas são traumatizadas pela dor dos seus educadores.

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A ansiedade de um desempregado é altíssima, os fantasmas da insegurança são assombrosos, o pânico familiar é intenso, o esgotamento cerebral é indescritível. Mas o que fazer diante da dor? A dor nos constrói ou nos destrói! Deveríamos usar nossas crises e angústias, inclusive a patrocinada pela perda de emprego, para nos construir, nos tornar mais fortes, inventivos, proativos. Deveríamos ser educados para expandir nosso nível de resiliência diante das intempéries da vida.

Nosso Eu, que representa a consciência crítica e a capacidade de escolha, tem de ser treinado para ser autor de nossa história nos focos de tensão, pois ninguém é digno do sucesso se não usar seus fracassos para alcançá-lo! Mas como usar as adversidades, os conflitos, o caos da perda de um emprego, para pavimentar nossa capacidade de se reinventar e de se superar? Como ter autocontrole mínimo nos vales dos estresses? Como usar a ansiedade ao nosso favor, tal qual um especialista em artes marciais que usa a força do adversário para vencê-lo? Discutiremos esses fenômenos no próximo artigo.

*O psiquiatra Augusto Cury é o escritor mais lido da década no Brasil e tem livros publicados em mais de 70 países.

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