No começo, o Airbnb estremeceu: a maior plataforma de aluguel de residências por temporada do mundo, com 7 milhões de propriedades listadas em 220 países, viu sua receita cair pela metade nos três primeiros meses de pandemia. Entretanto, conforme foi ficando claro que a crise não sumiria com a mesma rapidez que se alastrou, as locações foram sendo retomadas, fomentando, inclusive, novos modelos de negócio — um deles especialmente dirigido a pessoas que buscam, em vez de um refúgio completo fora da cidade, apenas algumas horas de diversão, de preferência perto de casa. Toda adversidade traz inovações, e foi justamente no rastro da maior crise sanitária do século, com clubes e condomínios sendo fechados, que surgiu uma oportunidade bem ao gosto de quem curte sol e calor: o aluguel de piscina em residências. Isso mesmo, exclusivamente da piscina.
Existe um ditado nos negócios que diz: “Se você não está fazendo uso de sua propriedade, deixe que ela faça dinheiro para você”. Antes mesmo da Covid-19, sob o sol escaldante do verão de 2018, nos Estados Unidos, o jovem empresário Bunim Laskin pôs em prática o lema e lançou o Swimply, uma plataforma on-line de locação de piscinas que já se expandiu para o Canadá e a Austrália. Assim como o Airbnb, o Swimply faz a intermediação entre anfitrião e hóspede, ficando com um porcentual da receita de locação.
Com suas características tropicais, não tardaria para que o Brasil fosse identificado com um ambiente promissor para esse tipo de atividade — estima-se que existam 3 milhões de piscinas particulares no país, número inferior apenas ao dos Estados Unidos. No entanto, não foi o Swimply a empresa que mergulhou nas piscinas nacionais. Quem tomou a dianteira e lançou uma plataforma de locação em plena pandemia foi o Dovizin, empresa cujo nome se inspira, carinhosamente, em uma característica brasileira de tempos mais gentis: emprestar “do vizinho”. Aqui, porém, não se trata de empréstimo, mas de locação limitada à área de lazer da casa.
Dovizin ainda não tem aplicativo, mas é um site tão amigável quanto qualquer outro de locação ou serviços compartilhados. O anfitrião oferece sua piscina na plataforma, com preços que variam de 100 a 300 reais por hora, dependendo do tipo de piscina, do local e das amenidades oferecidas — uma boa churrasqueira, mesas e cadeiras, por exemplo, conferem mais valor ao aluguel, que é fixo até cinco pessoas, havendo um acréscimo para cada usuário adicional. O site, entretanto, tem por norma não permitir mais de catorze pessoas, evitando assim grandes festas que possam trazer problemas ao proprietário, sobretudo agora, em tempos de isolamento. O objetivo é, acima de tudo, oferecer uma oportunidade de distração a famílias ou pequenos grupos de amigos. “Dez anos atrás, ninguém chamava carro ou alugava casa por aplicativo. Hoje em dia, já é possível até alugar um único quarto”, ressalta Marcos Vieira, cofundador do Dovizin, confiante na nova tendência.
A plataforma se compromete a checar, dentro da lei, tanto o hóspede quanto o anfitrião. A este, por sinal, cabe decidir se aceita crianças e animais de estimação, além de estabelecer regras quanto ao consumo de álcool ou cigarro. No site há também princípios a ser seguidos por ambas as partes: para cada três crianças, é obrigatória a presença de um adulto supervisionando. O anfitrião, por sua vez, precisa garantir a limpeza e higiene. Alguns se perguntam se ele deve sair de casa ou se trancar dentro dela na chegada dos locatários — essa escolha também cabe a ele. O importante é que esteja entendido um fato: o aluguel está restrito à piscina. O Swimply reporta que 90% dos anfitriões nunca se encontram com os hóspedes.
Lançado há duas semanas, o Dovizin tem vinte anfitriões cadastrados, mas seus fundadores esperam chegar a 2 000 até o fim do ano. Se depender de pessoas como a artista visual Danielle Preu, de São Paulo, não será difícil atingir essa meta. Danielle pretende anunciar a piscina de sua casa, cuja manutenção mensal é de 500 reais. “Como o custo já existe, o aluguel vem a calhar”, diz ela. Não é uma volta aos tempos de pedir favor ao vizinho, mas não deixa de ser um ato de desapego e um ótimo negócio atrelado a uma revolução: a do compartilhamento, postura que define a civilização do século XXI. A explosão tecnológica da internet pavimentou um jeito de viver, em que usufruir é mais relevante do que ter.
Publicado em VEJA de 31 de março de 2021, edição nº 2731