O presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, apoiou a fala do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, de rever as verbas do Sistema S. De acordo com ele, a intenção de cortar até 50% dos repasses é “um convite ao diálogo”.
“Hoje, os governos estão procurando desonerar a folha de pagamento para não sobrecarregarem a contratação”, disse Afif. “O Sistema S, criado nos anos 1940, precisa sofrer uma grande reformulação. Jamais extingui-lo. Modernizá-lo.”
Paulo Guedes determinou à sua equipe a meta de cortar pela metade os recursos que são repassados ao Sistema S, que inclui entidades como Sesi, Sesc, Senac, comandadas pelas confederações empresariais do país, e o próprio Sebrae. Na segunda-feira 17, durante um evento na Federação das Indústrias do Rio (Firjan), ele disse a empresários que “tem que meter a faca no Sistema S”.
“Muito do que o Sistema S faz pode ser feito pelo mercado de forma competitiva. Preservaremos as atividades com características de bens públicos”, afirmou Guedes.
“O Sebrae não tem a missão de formação profissional, como os primeiros programas do Sistema S. Estamos focados no desenvolvimento de pequenos negócios. Mas o Sebrae também precisa ter uma reformulação para ganhar mais eficiência”, disse Afif. “Demos um grande passo quando se mexeu na estrutura sindical, no ano passado. Agora, são as entidades que devem sofrer uma reavaliação.”
Apesar de a arrecadação do Sistema S ser feita a partir de um desconto sobre a folha de pagamentos, como o imposto sindical, as entidades ficaram de fora da reforma trabalhista. Com a retomada do crescimento, apesar de pequeno, as entidades voltam a se fortalecer com o crescimento pontual do emprego. Em 2017, o Sistema S recebeu 16,4 bilhões de reais.
José Amato Balian, professor de administração da ESPM, defende o Sistema S, mas concorda que é preciso buscar novas fórmulas para aumentar a eficiência das entidades. “É um processo que temos que passar. Se a folha de pagamento é reduzida, as entidades precisam ser mais eficientes. Ninguém é contra essa redução”, afirmou. “Mas, uma das poucas coisas que funcionam, é esse dinheiro que volta para a sociedade por meio do Sesi, do Senai e do Sesc.”
Uma das críticas ao Sistema S é a utilização das entidades para promoção de pleitos dos empresários ou até mesmo lançamentos de plataformas políticas. José Alencar, vice-presidente durante o governo Lula, foi presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), candidatou-se e quase chegou ao segundo turno na corrida ao governo de São Paulo, neste ano.
Para Arthur Ridolfo, da Fundação Getúlio Vargas, isso precisa acabar. “Muitas vezes, o Sistema S acaba sendo plataforma de promoção de dirigentes”, criticou. “Há um ponto questionável. É legítimo federação de indústrias ser financiada com contribuições compulsórias e repasses do governo?”