As ações da Petrobras desabaram cerca de 14% na bolsa brasileira nesta quinta-feira, levando a perda de 47 bilhões de reais em valor de mercado da estatal, após a companhia reduzir o preço do diesel por causa dos protestos dos caminhoneiros, deixando investidores apreensivos com o risco de interferência política na petrolífera com controle estatal.
Os papéis preferenciais, sem direito a voto, mas com preferência na distribuição de dividendos, caíram 13,71% e fecharam a 20,08 reais. As ações ordinárias, com direito a voto, recuaram 14,55%, a 23,20 reais. Apesar da forte queda nos papéis, eles ainda acumulam valorização em 2018, de 25 e 37%, respectivamente.
O tombo das ações nesta quinta-feira levou a companhia a ter um valor de mercado de 285,2 bilhões de reais. Isso fez com que a Petrobras deixasse de liderar o ranking de valor de mercado da bolsa, com a Ambev recuperando o posto, com valor de mercado de 319,6 bilhões de reais.
Pressionada pelo governo, a Petrobras anunciou na quarta-feira à noite redução em 10% no valor do diesel nas refinarias a partir desta quinta-feira, por quinze dias, em uma decisão “excepcional” devido aos protestos dos caminhoneiros, que deve resultar em perda de 350 milhões de reais em receita para a companhia.
Em teleconferência com analistas nesta quinta-feira, o presidente-executivo da Petrobras, Pedro Parente, tentou acalmar agentes financeiros, sem êxito. Ele disse que não deixaria o comando da companhia na atual situação e que os planos de desinvestimento, desalavancagem e redução da dívida da empresa não devem ser afetados pela decisão da véspera.
A agência de classificação de risco Fitch afirmou nesta quinta-feira, 24, que a decisão do Petrobrasde reduzir os preços do diesel em 10% nas refinarias “ressalta a capacidade contínua do governo brasileiro de influenciar as políticas e decisões da empresa”. De acordo com a Fitch, o risco político associado ao controle do governo brasileiro já está incorporado no rating BB- da companhia, com perspectiva estável.
Em comunicado divulgado nesta quinta-feira, 24, a Fitch comenta que considera positiva a política de preços de longo prazo da Petrobras, “já que ela aumentou a previsibilidade do fluxo de caixa e acrescentou transparência aos investidores. A mudança de estratégia também melhorou significativamente a lucratividade da Petrobras, de quando as decisões operacionais eram mais influenciadas pelo governo”. A agência lembra, ainda, que a companhia já havia aumentado os preços da gasolina e do diesel em 17% e 16%, respectivamente, em resposta à depreciação do real e ao aumento dos preços do petróleo no mundo.
“A greve dos caminhoneiros tem levantado preocupações sobre a capacidade das empresas brasileiras de manter cadeias de suprimentos just-in-time, bem como exportar produtos em setor-chave, como a agricultura”, disse a Fitch. Nesse sentido, a combinação de escassez de produtos críticos e paralisação da atividade econômico no contexto das próximas eleições “poderia resultar em preços de combustível ainda mais elevados e/ou o período de 15 dias pode ser prorrogado”, de acordo com a agência.
No cenário atual, no qual a Petrobras voltará gradualmente à política de preços, a perda estimada da companhia de cerca de 100 milhões de dólares durante o período representa menos de 0,5% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) estimado pela Fitch para a companhia em 2018, de 26 bilhões de dólares. “Além disso, a decisão não altera substancialmente nossa projeção de alavancagem líquida de 3,5x para este ano, que pressupõe uma redução potencial do Ebitda da venda de ativos”, além da possibilidade de impostos mais altos, junto com a previsão da Fitch de que o preço médio do petróleo tipo Brent para este ano seja de 52,50 dólares por barril.