A expectativa crescente de que os juros no Brasil devam permanecer em níveis elevados, acima dos dois dígitos, tem um efeito bastante negativo para ativos de maior risco, como a bolsa de valores, já que tira atratividade da renda variável e a coloca de volta na renda fixa. Mas um fator em especial deve ser um catalisador importante para as ações brasileiras: o corte de juros nos Estados Unidos.
“Nosso mercado continua dependendo do investidor estrangeiro, e esse é um fluxo que acredito que vá se repetir”, afirma Luis Otavio Leal, economista-chefe e sócio da G5 Partners. “Se o Federal Reserve der mais cortes de juros, isso será teoricamente melhor para países como o Brasil, porque ia liberar mais dinheiro do investidor estrangeiro para ativos de risco.”
Segundo dados da B3, os investidores estrangeiros já retiraram 23,2 bilhões de reais do mercado de ações no acumulado do ano até o dia 10 de setembro. Mas em julho e agosto, o humor dessa classe de investidores deu os primeiros sinais de melhora, com a colocação de 17,3 bilhões de reais.
Leal aponta que um movimento de “rotação” das carteiras dos fundo dedicados a mercados emergentes têm ajudado o Brasil, com o investidor estrangeiro diminuindo a sua exposição ao México e migrando parte das carteiras para cá. “No México, há uma questão política importante. A nova presidente eleita [Claudia Sheinbaum] é vista como títere do [do atual presidente, Andrés Manuel] López Obrador, que tinha a fixação de mudar a Constituição para dar mais poder para o Executivo”, diz. “Ela foi eleita e o mercado considera isso ruim para o setor privado.”
Com a migração de recursos do México para o Brasil, não apenas a bolsa brasileira pode se beneficiar, como também o câmbio local. “Não sabemos a extensão desse movimento, se ainda tem coisa para acontecer, mas é algo para ficar de olho. A tendência é que o Ibovespa possa chegar aos 140 mil pontos”, afirma.
Ainda segundo o economista, o Ibovespa poderá se aproximar dos 150 mil pontos apenas se o investidor local também estiver interessado em ir às compras na bolsa. Isso porque, do lado local, a parte fiscal ainda é o principal calcanhar de Aquiles, com efeitos para os juros elevados no Brasil. “A nossa conjuntura econômica é favorável, mas política fiscal e monetária hoje não ajudam”, diz. “No Brasil, o investidor local não vai procurar bolsa com juros em dois dígitos.”