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A estratégia da Índia para conter a fuga de cérebros de sua economia

Com potencial de injetar US$ 1 trilhão e gerar 50 milhões de empregos até 2030, país aposta em startups para crescer e reter talentos

Por Luana Zanobia 28 jun 2024, 06h00
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  • Índia, o país mais populoso do mundo, tem enfrentado há décadas uma diáspora de talentos. Cerca de 2,5 milhões de indianos deixam o país anualmente, parte deles profissionais qualificados que buscam melhores oportunidades de emprego e renda no exterior. Se, por um lado, esse movimento é criticado por atrasar o desenvolvimento econômico do país, por outro, resultou em executivos indianos ocupando posições de destaque em algumas das maiores empresas globais. Sundar Pichai é o presidente do Google, Satya Nadella lidera a Microsoft, Arvind Krishna comanda a IBM, e Shantanu Narayen está à frente da Adobe, apenas para citar alguns dos cérebros indianos no topo corporativo.

    O país se beneficia dessa exportação, funcionando como uma propaganda natural de suas competências e atraindo a atenção de empresas globais para seu potencial. “Esses líderes mantêm fortes laços com a Índia e contribuem para sua imagem e desenvolvimento global. Além de suas contribuições diretas, participam de conselhos e associações que ajudam a moldar políticas empresariais e governamentais, amplificando o soft power da Índia”, diz o indiano Umesh Mukhi, professor de administração da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.

    Bangalore: a cidade é chamada de capital dos unicórnios e tida como o Vale do Silício indiano
    Bangalore: a cidade é chamada de capital dos unicórnios e tida como o Vale do Silício indiano (iStock/Getty Images)

    Nos últimos anos, o país sul-asiático vem ganhando mais destaque no cenário global. A Índia tem um dos programas espaciais mais ambiciosos e caros do mundo, tornou-se um dos maiores produtores de vacinas durante a pandemia de covid-19 e, segundo estimativas, deve ser um dos poucos países a continuar crescendo a taxas superiores a 6% nos próximos anos. Essas perspectivas reforçam a necessidade de reter sua mão de obra qualificada. Um meio de fazer isso são as startups. Essas empresas emergentes contribuíram com 10% a 15% do avanço do produto interno bruto da Índia nos últimos oito anos. Espera-se que elas injetem 1 trilhão de dólares na economia até 2030 e gerem 50 milhões de empregos, segundo previsões do relatório Unicorn 2.0: Adding the Next Trillion, da Confederação da Indústria Indiana, em parceria com a consultoria McKinsey.

    arte Índia

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    Em parte, essas projeções já começam a se concretizar. Em abril, o Google demitiu 200 funcionários como parte de uma reorganização que incluiu a transferência de funções para a Índia e o México. A estratégia do Google está ligada ao seu mais novo investimento: a Flipkart, uma startup de comércio eletrônico indiana cujos fundadores são ex-funcionários da Amazon. O acordo de 350 milhões de dólares foi um dos 354 investimentos de capital de risco do primeiro trimestre do ano, num total de 3,2 bilhões de dólares, conforme relatado pela consultoria KPMG. Empresas como Google e Microsoft, entre outras big techs, estão investindo na Índia por várias razões, segundo Roberto Uebel, professor de relações internacionais da faculdade ESPM, de São Paulo. Uma delas é o custo-benefício de contratar mão de obra local altamente capacitada. Outro motivo é o acesso a um vasto mercado consumidor em expansão. “A presença estratégica na Índia é crucial para aproveitar o potencial de mercado do Sudeste Asiático”, diz Uebel. A expectativa é de um forte crescimento econômico da região até 2050.

    O programa Startup India, lançado pelo governo em 2016, com benefícios fiscais e apoio a incubadoras e aceleradoras, foi um dos grandes responsáveis pela disparada dessas empresas no país. A Índia já tem mais de 127 000 startups e, até janeiro, registrava 113 unicórnios com uma avaliação total de 350 bilhões de dólares. A previsão é que o número de unicórnios triplique até 2025. Hoje, um em cada dez unicórnios no mundo nasceu na Índia. Neste ano, foram adicionados mais dois à lista: a fintech Perfios e a Krutrim, uma startup de IA liderada por Bhavish Aggarwal, ex-Microsoft.

    Instituto de Tecnologia Kharagpur: inspirado em instituições de ensino americanas
    Instituto de Tecnologia Kharagpur: inspirado em instituições de ensino americanas (./Divulgação)
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    Além do potencial econômico, a estratégia de estimular o desenvolvimento de startups está alinhada ao desejo de empreender dos que voltam ao país. Muitos retornados são os fundadores das startups — vide o exemplo da Flipkart. Executivos indianos que ocuparam cargos de destaque em empresas globais estão entre eles. Exemplos notáveis incluem Kunal Bahl e Rohit Bansal, que voltaram dos Estados Unidos para fundar a Snapdeal, uma das maiores plataformas de comércio eletrônico da Índia. Uma pesquisa da National Association of Software and Service Companies indicou que perto de 10% das startups locais foram criadas por indianos que regressaram do exterior. “Esse retorno não é apenas um movimento individual, mas parte de uma tendência mais ampla que está ajudando a fortalecer ainda mais a economia indiana”, diz Mukhi.

    Sede do Google na Índia: transferência de funções dos Estados Unidos para lá
    Sede do Google na Índia: transferência de funções dos Estados Unidos para lá (Nasir Kachroo/NurPhoto/Getty Images)

    Apesar do investimento em capital de risco ter diminuído no último ano, de 24 bilhões de dólares em 2022 para 11,3 bilhões em 2023, a Índia continua a ser um dos principais destinos desse tipo de aporte na Ásia. Esses recursos se destinam ao investimento em novos negócios e empresas em estágio inicial. As principais cidades que abrigam esses negócios são Bangalore, Delhi e Mumbai. Bangalore, conhecida como a capital dos unicórnios, sedia empresas líderes, como Flipkart, Swiggy e Ola Cabs, e tem um vibrante ecossistema de startups, com forte apoio de investidores e incubadoras. A cidade é frequentemente comparada ao Vale do Silício, devido ao ambiente dinâmico e inovador. Delhi, além de ser um centro de negócios diversificado, é sede de gigantes como Paytm e Zomato. A região se beneficia de sua proximidade com o governo, facilitando interações regulatórias estratégicas e atraindo investimentos significativos. Mumbai, o hub financeiro do país, destaca-se com fintechs e comércio eletrônico. Empresas de sucesso como Byju’s e Dream11 estão sediadas na cidade.

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    Para que essa estratégia tenha sucesso, a Índia também precisa superar alguns desafios críticos. Um dos principais é aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento, que é de apenas 0,7% do PIB. O índice é insuficiente para sustentar a inovação necessária ao crescimento das startups. Além disso, é essencial melhorar a infraestrutura digital, simplificar a burocracia e criar um ambiente regulatório mais favorável. Abordar essas questões permitirá que a Índia não só retenha os talentos, mas também crie um ecossistema competitivo de startups, consolidando sua posição no cenário global.

    Publicado em VEJA, junho de 2024, edição VEJA Negócios nº 3

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