Quando o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo, o mercado financeiro foi abalado à velocidade de um meteoro. Do dia 21 a 23 de fevereiro do ano passado, período em que houve a queda mais profunda nos mercados mundiais durante a crise da Covid-19, as empresas listadas nas bolsas de valores sofreram um enorme abalo: o Ibovespa despencou de 113,6 mil pontos para 63,5 mil e o S&P 500 de 3.337,7 para 2.237,4. Para empresas de nichos específicos, no entanto, o movimento foi diferente e vale a pena olhar de perto a oscilação das fabricantes de vacina.
Dados compilados pela Economatica a pedido de VEJA mostram que, do dia 21 de fevereiro de 2020 à ultima quinta feira, 21, a Novavax foi a empresa cujos papéis mais de valorizaram, 1.485,49%. Este crescimento mostra bem como o mercado de ações é feito de especulação e expectativas. Em contrapartida, gigantes do mercado farmacêutico, como a Pfizer, teve valorização na casa de 5% e a Johnson & Johnson, 10,8%.
Com sedes na Suécia e na República Tcheca, a Novavax foi criada em 1987 e realiza pesquisas para desenvolver drogas que previnam a contração de doenças infecciosas. Apesar da alta expectativa sobre seus resultados, ela nunca lançou um produto e a vacina contra a Covid-19 está em fase de testes. Por isso em valor de mercado a empresa é a menor número da lista (veja quadro), 205.178 milhões de dólares.
“A empresa que chega na fase 3 de aprovação geralmente tem uma valorização absurda, e foi o que ocorreu com a Novavax em março do ano passado. Provavelmente, ela não crescerá tanto este ano, mas a maior parte dessa alta era contando que ela conseguiria uma vacina para a Covid-19”, diz Breno Bonani, estrategista da Avenue.
A segunda com maior crescimento no período é outra empresa cujas esperanças de lucros é bem maior que os resultados atuais. Os papéis da Moderna subiram no período 629,46%. Fundada em 2016, a companhia americana tem foco em estudos e desenvolvimento de vacinas e terapias com base no RNA mensageiro, mas, de sua criação até 2019, ela só deu prejuízos. No dia 18 de dezembro de 2020, o seu imunizante contra a Covid-19 foi aprovado para uso emergencial pela U.S. Food and Drugs Administration (FDA) e então recebeu a mesma autorização no Canadá, na União Europeia e no Reino Unido. Com 95% de eficácia, o imunizante da Moderna já teve 461 milhões de doses vendidas, 200 milhões para os Estados Unidos. Em valor de mercado, porém, a Moderna ocupa um dos três últimos postos do ranking e é avaliada em 6,07 bilhões de dólares.
Já a BioNTech ocupa o terceiro lugar na lista de crescimento e teve suas ações valorizadas em 225,9% no período. Listada na Nasdaq e fundada em 2008, a BioNtech é alemã e desenvolve tratamentos para pacientes com câncer, também a partir do RNA modificado. O desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 foi realizado em parceria com a Pfizer e o imunizante acabou aprovado pelo Reino Unido no dia 9 de dezembro, para uso emergencial. A partir daí, as agências sanitárias do Canadá, Estados Unidos e União Europeia fizeram o mesmo.
As empresas já venderam 836 milhões de doses do imunizante — 300 milhões delas para a União Europeia, 200 milhões para os Estados Unidos e 120 milhões para o Japão. Apesar de as duas empresas desenvolverem o mesmo imunizante, as ações da Pfizer tiveram, no período, um crescimento menor, de 5,22%. Não é para menos, afinal, a americana existe desde 1942 e é a segunda biofarmacêutica com maior valor de mercado entre as desenvolvedoras de vacinas contra a Covid. No último dia 21 de janeiro, ela estava avaliada em 197,67 bilhões de dólares.
As ações da americana Johnson & Johnson, por sua vez, variaram 10,8% no período. Em valor de marcado, porém, empresa fundada em 1887 é a primeira da lista, avaliada em 395,02 bilhões de dólares. Devido à magnitude da empresa, ela possui muitos canais para a distribuição da vacina, a qual também tem a vantagem de poder ser aplicada em apenas uma dose. Porém, a vacina desenvolvida ainda aguarda aprovação dos órgãos competentes e o último teste foi realizado no dia 9 de dezembro, em 40 mil pessoas.
No quinto lugar em maior crescimento está a inglesa AstraZeneca. Fundada em 1992, a holding atua em oito áreas terapêuticas, uma delas de infecções. A empresa fez uma parceria com a Universidade de Oxford e não visa lucrar com a vacina, e sim fornecê-la para países mais vulneráveis. O imunizante foi aprovado pela primeira vez pelo Reino Unido no dia 30 de dezembro e pela Índia no dia 2 de janeiro, ambas em caráter de uso emergencial. Com eficácia de 70%, já foram vendidas 3 milhões de doses, 1 milhão delas para a Índia e 300 mil para a Covax, uma aliança mundial da Organização Mundial da Saúde que visa garantir o acesso igualitário dos países às vacinas contra a Covid-19. Em valor de mercado, a empresa ocupa o terceiro lugar e é avaliada em 126 bilhões de dólares.
E a última no ranking de crescimento é a francesa Sanofi, que variou 1,24% no período. Criada em 1994, ela realizou uma parceria com a farmacêutica multinacional britânica GlaxoSmithKline. Os testes da vacina porém não foram muito bem sucedidos e recentemente a empresa afirmou que só ficará pronta a partir do final de 2021. Em valor de mercado, porém, a Sanofi ocupa o quinto lugar no ranking, com 127,51 bilhões de dólares.
Vale lembrar que a velocidade da corrida pela vacina em 2020 foi a mais rápida da história. O tempo médio para o desenvolvimento de um imunizante é de 10 anos, mas, com a gravidade da Covid-19 e o rápido espalhamento do vírus pelo mundo, as empresas apertaram o passo. Em um ano em que diversos setores tradicionais como de petróleo tomaram um tombo devido ao isolamento social, investir nas biofarmacêuticas foi uma alternativa para os investidores ganharem com a valorização dos papéis.