O vai e vem da inflação no ano passado mostrou dois efeitos da crise do novo coronavírus na economia. Em primeiro momento, com o choque da pandemia e o fechamento de atividades, houve queda brusca, devido a desaceleração da demanda. Porém, com a retomada, a pressão dos alimentos fechou e fez com que o índice subisse e ultrapassasse a meta do governo. A inflação é um grande termômetro do consumo e também sensível a variação cambial, alta das commodities e, claro, efeito de política econômica. Para este ano, os analistas do mercado financeiro apostam em um comportamento menos acelerado da inflação. Segundo o Relatório Focus, divulgado nesta segunda-feira, 11, pelo Banco Central, a expectativa é que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 3,34% neste ano. A estimativa de 2020 ficou em 4,37%. O resultado oficial do IPCA de 2020 será divulgado nesta terça-feira, 12, pelo IBGE.
A aposta é que principais fatores para a pressão inflacionária no ano passado — retomada das atividades, pagamento do auxílio emergencial e desvalorização do real em relação ao dólar — devem ocorrer em menor proporção (ou não acontecer, como é a perspectiva do benefício financeiro para trabalhadores informais) em 2021, impactando menos a pressão da inflação neste ano. O dólar, que fechou o ano em 5,19 reais, é estimado em 5 reais para o fim deste ano. No caso dos alimentos, principal motor da inflação do ano passado, o fim dos benefícios assistenciais emergenciais do governo podem desacelerar essa demanda, baixando os preços. Neste ano, a pressão deve vir mais em preços administrados como planos de saúde, gastos com educação e o próprio setor de serviços, deprimido em 2020. Porém, o balanço das atividades faz com que o mercado aposte em uma inflação abaixo do centro da meta de 3,5% neste ano.
Ainda sim, o mercado estima alta na Selic, a taxa básica de juros. A previsão é de 3,25%, acima dos 3% previsto na semana passada. Atualmente, a Selic está em 2% ao ano, a mínima histórica. Na última reunião de 2020, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica em 2%, alegando mais uma vez que a pressão inflacionária é temporária e que para 2021, o IPCA segue projeções controladas, próximo do centro da meta, porém mais baixo. “As últimas leituras de inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços dos alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada. Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente”, afirma o comunicado divulgado após a reunião. A próxima decisão do Copom será conhecida na quarta-feira, 20.
Retomada econômica
Os economistas consultados pelo Banco Central apontam numa recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2021 após a queda histórica de 2020. A perspectiva é que a economia brasileira cresça 3,41% neste ano, após um recuo estimado de -4,37% em 2020. Apesar da crise sanitária ainda não ter ido embora, a expectativa é de continuidade na recuperação das atividades, que passaram por choque no ano passado.
A retomada das atividades econômicas, que ganhou fôlego no terceiro trimestre de 2020, somada a expectativa pela vacinação da população são os fatores que o mercado leva em consideração para estimar a recuperação econômica. Além disso, o andamento da agenda de reformas também é essencial para melhorar o ambiente de negócios e destravar investimentos, empurrando assim a retomada.
Vale lembrar que fatores externos impactam o desempenho da economia, incluindo doenças e política externa. No ano passado, por exemplo, a previsão era de crescimento de 2,3% no início do ano, mas o choque de demanda trazido pelo coronavírus impactou em recessão. A estimativa de recuo da economia brasileira em 2020 é de 4,36%, segundo o Focus divulgado nesta segunda. O resultado do PIB do ano passado será revelado no próximo mês de março.