No Festival de Cinema de Berlim para a exibição de Marighella, sua estreia na direção, Wagner Moura mostrou uma placa com o nome de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro executada a tiros em 14 de março do ano passado. O ator e diretor passou pelo tapete vermelho do evento com a placa nos braços.
A placa é uma reprodução daquela que foi destruída no começo de outubro por Rodrigo Amorim (PSL), então candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Poucos dias depois, no primeiro turno das eleições, ele se tornou o deputado estadual eleito com o maior número de votos do estado, 140.666.
A placa destruída por Amorim havia sido colocada em uma das esquinas da Praça Floriano, na Cinelândia, onde fica a sede da Câmara Municipal do Rio, por aliados de Marielle. Não era oficial e tinha sido instalada como uma maneira de homenagear a vereadora.
“Marighella, negro, revolucionário, foi assassinado por forças do Estado em 1969 no seu carro e, 50 anos mais tarde, uma vereadora negra morreu da mesma forma nas mãos, provavelmente, de agentes do Estado”, afirmou Moura nesta sexta-feira, 15, em coletiva de imprensa, em referência a Marielle.
“O Estado brasileiro é racista, a violência de 50 anos atrás é a mesma que se emprega hoje contra a população das favelas e a polícia não está treinada para proteger os cidadãos, mas o Estado, e o Estado decide quem são os inimigos”, completou.
Marighella
O primeiro filme dirigido por Wagner Moura foi exibido no Festival de Berlim na quinta-feira 14, para a imprensa, e nesta sexta para o público em geral do evento. No longa, o ator apresenta seu retrato pessoal de Carlos Marighella, um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura, morto em uma emboscada em 1969.
“Não estamos sugerindo que as pessoas peguem em armas, mas também não julgamos os que pensaram que era o melhor que se podia fazer”, disse o cineasta em entrevista coletiva. “O paralelismo entre o golpe de estado de 1964 e o que acontece hoje no Brasil para mim é realmente claro.”
“Há um genocídio contra os negros, os indígenas têm as suas terras roubadas e temos um presidente abertamente homofóbico e racista, e o Brasil o elegeu”, lamentou, em referência a Jair Bolsonaro.
Para o ator e cantor Seu Jorge, que encarna Marighella, foi “uma honra”, mas ao mesmo tempo “difícil” interpretar o guerrilheiro. “Não acredito nas armas, acredito na paz, mas às vezes é preciso lutar”, afirmou.
Por sua vez, Bruno Gagliasso, que interpreta Lúcio, o homem para o qual todos os métodos são válidos para acabar com Marighella, declarou que seu maior desafio foi encontrar a parte humana desse “monstro” que é seu personagem. O ator disse que foi difícil atuar com tanto ódio contra Marighella porque sua filha é negra e, por isso, sabe o quão importante é este filme para o seu futuro.
(Com EFE)