A notícia da criação da CNN brasileira, esta semana, provocou rumores de que a iniciativa no negócio do jornalismo — que vive uma crise histórica de mercado — seria mais um chapéu a concorrer por recursos do novo governo. Responsável pela empreitada, o empresário Rubens Menin, porém, garante que o canal de notícias não terá um centavo de verba federal, direta ou indireta, e nem de nenhuma esfera pública. Irá ao ar no segundo semestre, afirma ele, com investimentos provenientes apenas da holding de sua família, dona da mineira MRV Engenharia, maior do ramo no país e que fechou 2018 com lucro estimado em 1,35 bilhão de reais.
Menin é conhecido por seus tiros certeiros de mercado. Mas afirma que a vinda do canal é, antes de tudo, sua contribuição com a educação e a valorização do Brasil e do brasileiro. “A imagem do país no exterior anda muito ruim e temos muita coisa boa por aqui que precisa ser vista. Vamos melhorar a imagem do Brasil”, diz o engenheiro, que pretende “exportar reportagens de qualidade” produzidas por uma equipe de 400 jornalistas a serem encabeçados por Douglas Tavolaro, jornalista e amigo de longa data. Tavolaro deixou, para isso, a vice-presidência da Record, onde trabalhou por quase duas décadas. Uma das tentativas anteriores (e frustradas) de se trazer o canal americano para cá foi da emissora do bispo Edir Macedo. Outra da RedeTV!
Também veio dos Estados Unidos a inspiração para o dono da MRV abraçar o negócio do jornalismo. Michael Bloomberg, dono de uma das maiores fortunas do mundo, realizou uma segunda doação de 1,8 bilhão de dólares para a Johns Hopkins University no final do ano passado, para a qual ele já havia dado 1,5 bilhão. Na ocasião, lembra Menin, o dono da agência Bloomberg declarou que cuidar da educação americana era o único meio de salvar o seu país. “Penso o mesmo. E acredito que a boa imprensa é o que pode garantir a educação do brasileiro”, diz.
Não se sabe se o investimento da versão brasileira do canal terá a escala do realizado pelo bilionário americano; o contrato com a CNN prevê uma cláusula de confidencialidade dos aportes envolvidos. Mas o montante terá, no mínimo, de ser suficiente para a seleção e contratação imediata de 800 profissionais para o estabelecimento de três escritórios (São Paulo, sede, Rio de Janeiro e Brasília, sucursais), treinamentos internos e envio de correspondentes para fora do país.
O contrato feito com a CNN International Commercial dá independência total de conteúdo em relação à matriz e disponibiliza os conteúdos de praças onde o canal atua para a transmissão brasileira. Mas o empresário, que presidirá o conselho, aposta na produção interna para preencher a maior parte da grade de 24 horas, como o formato da matriz. Sobre a linha editorial, ele diz que será resultado do trabalho das equipes, sempre com a orientação de combater notícias falsas e buscar uma identidade nacional. “Quero jornalistas nas ruas mostrando o que de verdade acontece no Brasil”, diz. “Será um produto de qualidade feito pelo brasileiro e para o brasileiro.”