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‘Vai Malandra’ chega a 30 milhões de views e Anitta lacra 2017

Melhor clipe da cantora traz um riff inesquecível, uma visão sensual do Morro do Vidigal e, é preciso reconhecer, a fotografia belíssima de Terry Richardson

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h57 - Publicado em 21 dez 2017, 11h59
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  • Vai Malandra acaba de atingir a marca de 30 milhões de visualizações no YouTube. Lançado na segunda-feira, dia 18, o clipe teve uma arrancada fenomenal: em média, são 10 de milhões de views por dia. Só nas primeiras 24 horas, foram 15 milhões de cliques — um recorde para a estreia de um artista nacional na plataforma. Foi um vídeo escolhido com cuidado por Anitta para fechar o ano: com Vai Malandra, a cantora, que investiu pesado na carreira internacional nos últimos meses, não apenas encerra, mas lacra 2017 apontando para seus dois alvos diletos, o Brasil e o estrangeiro.

    O Brasil vem representado por aquilo que a própria Anitta chama de suas raízes: a periferia e o funk carioca, onde ela teve início. Rodado no Morro do Vidigal, o clipe descortina sem coitadismo – embora com algum verniz – a realidade da favela. Um caminhão velho com lona sobre a caçamba vira piscina para que marmanjos espantem o calor do sol do Rio, enquanto mulheres vestidas apenas de fita adesiva fazem proveito dele para pegar um bronze na laje. Homens jogam sinuca e exibem cordões de ouro e, sim, Anitta rebola, rebola, rebola, balançando a bunda, as tranças e as pernas com celulite.

    O excesso de bumbuns incomoda um pouco, em especial aos mais sensíveis. Mas, como fazem lembrar uns e outros, inclusive homens, na incessante discussão detonada pelo clipe nas redes sociais, é Anitta quem está no comando sempre. Mc Zaac dá tapinhas na poupança da moça? Sim, mas porque ela deixa, ela consente, ela quer. Como disse um usuário do Facebook, um tapinha não dói – desde que seja uma opção. Confira a cena a partir de 2’06’’.

    “Não vou mais parar, você vai aguentar”, Anitta canta, quase ordena. O posicionamento da mulher como sujeito da ação sexual, aliás, acompanha a obra da cantora, com letras que defendem a liberdade de a mulher fazer o que quer – rebolar, dançar, trair. Está até mesmo na muito controversa defesa de que a mulher deve se dar valor e se respeitar, que pautou um debate acirrado com a cantora Pitty no Altas Horas, da Globo.

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    No já velho hit Não Para, que tem o mesmo espírito de Vai Malandra, Anitta canta: “Hoje ‘cê pode chegar, que eu tô querendo (…) Viu, eu vim pra ficar / Abre pra eu passar / Vai ter que respeitar / Não para não, vai não para, não para não”. Em Meiga e Abusada, ela transborda confiança: “Eu posso conquistar tudo que eu quero / Mas foi tão fácil pra te controlar / Com jeito de menina brincalhona / A fórmula perfeita pra poder te comandar / Pensou que eu fosse cair mesmo nesse papo? / Que tá solteiro e agora quer parar / Eu finjo, vou fazendo meu teatro / E te faço de palhaço, pra te dominar”.

    Há quem aponte uma apropriação oportunista, por parte de Anitta, de temas como feminismo, antirracismo e inclusão social – temas que estão quentes e que, além disso, poderiam situá-la no nicho latino do mercado americano, seu principal objetivo no exterior. Daí viriam as letras, os cabelos trançados, a escolha do Vidigal com locação. Anitta é de fato, a começar pelo nome artístico, um produto. É difícil saber onde acaba e onde começa a personagem pública, construída primeiro com a forja da empresária Kamilla Fialho – hoje no lado oposto de um processo que corre na Justiça, em que uma acusa a outra de subtração de recursos e obrigações – e atualmente pela própria cantora, que assumiu a carreira com as duas mãos.

    Kamilla investiu em cirurgias plásticas – a injeção de silicone nos seios e a primeira das rinoplastias feitas por Anitta – e em sessões de fonoaudiologia e estilo. A cantora, cujo nome verdadeiro é Larissa, parece ter aprendido com a empresária e, inteligente que é, segue trabalhando a imagem com esmero. Não se pode negar: seja como for, Anitta tem genialidade, a capacidade de fazer escolhas acertadas, de tópicos, referências, ritmos, batidas e parcerias, e ainda sabe como embalá-las. E, algo que é em tudo positivo, tem feito as pessoas discutirem os tópicos de que estaria se apropriando.

    Por fim, o elemento estrangeiro de Vai Malandra vem do olhar do nova-iorquino Terry Richardson. Se separar a pessoa de sua obra permite algo, é reconhecer que o fotógrafo americano, que anda enrolado com denúncias de assédio sexual e precisa mesmo se ver com todas elas, tem um grande olhar. Embora gringo, e talvez por isso mesmo, ele soube captar a beleza que há no Vidigal e dar a Anitta o fôlego criativo que faltava para fechar 2017 com um lacre. Vai Malandra.

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