Um mês após o lançamento de Titãs, a Netflix estreia mais uma série de super-heróis na plataforma. Desta vez, a produção de dez episódios é uma adaptação da HQ criada pelo ex-membro da banda My Chemical Romance Gerard Way e ilustrada pelo brasileiro Gabriel Bá, The Umbrella Academy, que estreia nesta sexta-feira, 15.
Depois do cancelamento de diversas séries do universo Marvel originais do serviço de streaming, a Netflix aposta na história um tanto excepcional publicada pela editora Dark Horse Comics nos Estados Unidos: no mesmo dia, em 1989, 43 mulheres dão à luz, sem nem mesmo saber que estavam grávidas. Sete dos bebês são adotados pelo bilionário russo Sir Reginald Hargreeves, que cria a Umbrella Academy, um grupo de heróis formado pelas crianças, dotadas de superpoderes.
Com a misteriosa morte do pai adotivo anos depois, seis dos irmãos se reúnem para investigar o acontecimento. Todos os conflitos e traumas da infância começam a aparecer, enquanto eles lidam com a ameaça iminente de um apocalipse global.
Lançada em 2007, a história em quadrinhos quase foi adaptada para o cinema em 2010 pela Universal Studios, mas os planos nunca saíram do papel. Nove anos depois, os criadores agradecem a demora para ver a trama ganhar as telas. “Fazendo um longa, teríamos que picotar muito mais a história. Com a série, temos uma espécie de filme de dez horas”, afirmou Gabriel Bá em uma conversa com jornalistas, após a Comic Con Experience 2018, em que VEJA esteve presente.
“Nós tivemos sorte, porque tudo melhorou nesses anos. As imagens não tentam ser fiéis às dos quadrinhos, mas trabalham com a força da mídia, usando efeitos especiais pensados para live-action (como são chamados os filmes com atores). Além disso, às vezes, as histórias de super-heróis são ridículas, com as fantasias e tudo mais. A série não tenta fazer isso, nem ser obscura ou muito chamativa”, concluiu.
“Nós criamos mais profundidade para os personagens do que muitos dos quadrinhos mais conhecidos que já tinham sido lançados”, completou Gerard Way.
Para Bá, o ponto central da trama está em acompanhar essa família disfuncional, estruturada nos sete irmãos adotivos. “Nossos personagens precisam se juntar para lidar com os próprios problemas. O centro da história é: você pode até tentar se distanciar dessas questões, mas eventualmente elas vão te assombrar e você terá que lidar com isso, especialmente quando estamos falando de família.”
Um destaque da produção é a diversidade do elenco principal, já que os irmãos adotivos vêm de diferentes partes do mundo. A ideia parece ter funcionado bem para a Netflix, que hoje está presente em mais de 190 países, e já repetiu essa pluralidade em outras séries, como Sense8 e a australiana Tidelands.
“Gerard já viajou o mundo todo e tenta sempre colocar diferentes elementos, personagens e cenários na história”, explicou Bá, que cita a cartunista Laerte entre as suas grandes influências. “Sou um outsider nos Estados Unidos e, por isso, tenho outro ponto de vista. Mesmo publicando no mercado americano, temos leitores internacionais. Sempre tomo cuidado para não fazer tudo de um ponto de vista dos Estados Unidos. Podemos fazer melhor do que isso.”
Sou um outsider nos Estados Unidos e, por isso, tenho outro ponto de vista. Mesmo publicando no mercado americano, temos leitores internacionais. Sempre tomo cuidado para não fazer tudo de um ponto de vista dos Estados Unidos. Podemos fazer melhor do que isso
A nova série ainda marca a volta da atriz Ellen Page para o mundo dos quadrinhos. A americana interpretou a Lince Negra nos filmes X-Men: O Confronto Final e X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Ainda há rumores de que ela possa reprisar o papel em um filme solo da personagem da Marvel.
“Há uma pressão, porque nós queremos que os fãs que são tão devotados e estavam tão animados na Comic Con fiquem felizes com o resultado”, ela comentou sobre o lançamento de The Umbrella Academy. “Não sou uma grande fã de HQs. Li quando criança e, já adulta, vi quadrinhos lindos. Mas fico muito feliz em estar envolvida nesses projetos.”
Além de Ellen, o elenco principal é composto pelos americanos Aidan Gallagher e Emmy Raver-Lampman, o britânico Tom Hopper, o mexicano David Castañeda e o irlandês Robert Sheehan. Cameron Britton (que ficou conhecido por interpretar o assassino em série Ed Kemper na série Mindhunter) e a cantora Mary J. Blige assumem os papéis de agentes que têm a missão de capturar um dos irmãos.
Problemas sérios, mas com bom humor
A série ainda mistura cenas do presente, em que o mundo está próximo de um apocalipse, por motivos desconhecidos, e da infância dos sete irmãos. Enquanto seis deles lutavam contra o crime nos anos 1990 e 2000, Vanya (interpretada por Ellen Page) ficava em casa, por não ter poderes especiais, aparentemente.
“No início, nós passamos um dia com os atores que nos interpretam mais novos, foi incrível. Eles ainda gravaram antes de nós, então foi uma dinâmica muito legal”, afirmou Ellen. “Eles não recebiam os episódios completos, apenas as próprias cenas, por motivos de seguranças do roteiro. Então, eles ficavam muito curiosos e perguntavam: o que vocês vão fazer hoje para saber um pouco mais da história?”, revelou Emmy.
A convivência com o pai rígido e pouco presente, a responsabilidade em combater o crime da cidade e a exposição da família na imprensa são alguns dos traumas que os personagens precisam enfrentar na fase adulta.
Apesar dos problemas densos, a série tenta manter o bom humor. Os dois detetives, vividos por Cameron Britton e Mary J. Blige, vivem situações dignas d’Os Trapalhões, aliviando as cenas de violência que protagonizam. A própria interação entre os personagens principais é recheada de piadinhas e ironia, que tornam o clima da produção descontraído. “Na vida, mesmo nos momentos mais dramáticos, nós conseguimos encontrar humor. E acho que é por isso que a série parece mais real, de alguma forma”, comentou Tom Hopper.