“Cada ato de criação é antes de tudo um ato de destruição.” Com essa frase do artista espanhol Pablo Picasso em sua conta do Instagram, o inglês Banksy justificou sua mais recente obra. Mais do que isso, o que ele fez foi uma performance. Na Sotheby’s, a mais famosa casa de leilões de arte do mundo, seu quadro intitulado Garota com Balão foi vendido pelo equivalente a 5 milhões de reais na sexta 5. A imagem que Banksy pintou reproduz um grafite que ele mesmo fez em um muro em Londres, há catorze anos. Assim que o leiloeiro bateu o martelo na mesa, um mecanismo começou a funcionar e a parte de baixo do quadro foi picotada, como fazem as máquinas fragmentadoras de papel. O público reagiu entre a descrença e a galhofa. Banksy é conhecido por ser um crítico do mercado de arte. Esconde sua identidade e aparece sempre de capuz. Mas ele não é assim tão avesso ao sistema. O mais provável é que estivesse tudo combinado. Os funcionários da Sotheby’s sempre realizam uma cuidadosa investigação das peças. Uma moldura grossa e profunda com um buraco embaixo não passaria incólume. No vídeo postado nas redes sociais é possível ver que, logo depois de encerrar os lances, o leiloeiro aperta algo na mesa com a mão direita, acionando a engrenagem. Questionada, a casa de leilões se fez de boba. O segredo ajuda o negócio. A performance chamou a atenção global, e o valor do quadro, mesmo triturado, dobrou. Como a destruição foi parcial, a parte picotada poderá voltar a ser posicionada dentro da moldura. Sorte de quem comprou a brincadeira.
Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604