Uma testemunha-chave do julgamento por abuso sexual do produtor de cinema Harvey Weinstein sofreu, nesta segunda-feira, 3, um ataque de pânico durante uma dura rodada de perguntas da defesa, que a acusou de manipulá-lo para avançar na carreira.
O juiz responsável pelo caso, James Burke, foi obrigado a cancelar a sessão depois de Jessica Mann começar a chorar descontroladamente ao ler uma carta que enviou ao seu ex-namorado, na qual explicava que havia sido agredida sexualmente no passado e que temia ser penalizada pelos erros que cometeu.
No texto, escrito em maio de 2014, a ex-atriz falava sobre “dinâmica” que tinha com Weinstein, que sempre a apoiava quando ela se sentia sem esperanças devido às más relações que tinha com o pai.
Com a voz trêmula e visivelmente emocionada, Mann disse, lendo a carta, que Harvey sempre a ajudava e estava presente de um jeito que os pais dela nunca estiveram. “Harvey tinha a idade de meu pai e me deu a aprovação que eu precisava”, leu a ex-atriz.
Burke ofereceu um recesso, mas, no retorno do depoimento, Mann começou a sofrer o ataque de pânico.
A suposta vítima do produtor passou por cinco horas de um exaustivo interrogatório conduzido pela principal advogada de Weinstein, Donna Rotunno, que apresentou uma série de e-mails carinhosos trocados pelos dois até 2016 e que, em sua opinião, provam que o ex-todo poderoso de Hollywood mantinha uma relação consensual com suas principais acusadoras.
“Obrigado por seu apoio incondicional e amabilidade. Você me ajudou a acreditar em mim mesma”, escreveu Mann em um e-mail seis meses depois do suposto estupro. “Ninguém me entende tanto quanto você”, escreveu em outra mensagem.
Rotunno tentou desacreditar o depoimento feito por Mann na última sexta-feira, quando a ex-atriz afirmou ter sido estuprada por Weinstein em um hotel de Nova York em 2013. Ela também questionou a relação posterior entre os dois, argumentando que a suposta vítima fazia sexo com seu cliente para crescer em Hollywood.
Em uma terceira mensagem, escrita em 2014, Mann fez alusão ao sorriso de Weinstein e a seus “belos olhos”.
Hoje, a ex-atriz respondeu muitas das perguntas incisivas com insegurança e deu mais detalhes de uma relação sexual que começou de forma consensual com um sexo oral não forçado, mas que acabou como um ato não consentido por ela.
Mann falou sobre um incidente citado no depoimento de sexta-feira e lembrou que, certa vez, enquanto os dois tomavam juntos, Weinstein a perguntou se ela sabia o que era uma “golden shower”. Quando disse não conhecer o termo, o produtor começou a urinar sobre ela.
“Me relacionei com um abusador porque acreditava na minha mente e pela percepção da sociedade em que vivia. Sempre foi o melhor para os meus interesses que as coisas entre nós ficassem bem”, afirmou a suposta vítima no depoimento.
A ex-atriz, que afirmou ser uma “pessoa insegura” na época em que as alegações de abuso teriam ocorrido, disse que a relação que teve com Weinstein depois do suposto estupro sofrido em 2013 era “o segredo mais profundo” que ela tinha.
“Você manipulou Harvey?”, perguntava reiteradamente a advogada a Mann, que, de bate-pronto, respondeu. “Como consegui processar (o suposto abuso) e sobreviver, suponho que sim”.
Weinstein, de 67 anos, poderia ser condenado à prisão perpétua se for considerado culpado de ser um predador sexual em relação à suposta agressão de Mann e à denúncia da ex-assistente de produção Mimi Haleyi, que o acusa de fazer sexo oral nela contra a vontade em 2006. Ele nega as acusações e assegura que todas as suas relações foram consensuais.
(com EFE e AFP)