A secretária do Audiovisual, Katiane de Fátima Gouvêa, foi exonerada nesta quarta-feira, 11, pelo titular da pasta de Cultura, Roberto Alvim. A decisão foi tomada dois dias após a VEJA revelar que a Ancine havia censurado a exibição do filme ‘A Vida Invisível’, do diretor Karim Aïnouz, em um programa de capacitação de servidores da agência. Nos bastidores, a decisão de proibir a mostra foi atribuída a Katiane.
‘A Vida Invisível’ foi o filme brasileiro inscrito para a disputa do Oscar em 2020. Em entrevista a VEJA, o diretor Karim Aïnouz havia classificado a proibição à exibição como um ato de censura. “Existe uma guerra ideológica cega que vai contra interesses econômicos. O desmonte do audiovisual no Brasil afeta um forte setor econômico. É estrategicamente incongruente. Em vez de o governo apoiar uma indústria que dá retorno financeiro e representa o país no mundo, decide nos boicotar”, afirmou Aïnouz.
Em nota, a Secretaria de Cultura informou que Roberto Alvim decidiu exonerar a secretária após tomar conhecimento de que há suspeitas de irregularidades na campanha de Katiane para deputada federal em 2018. Ela se candidatou ao cargo pelo PSD, mas não foi eleita. “Até que esses fatos sejam devidamente esclarecidos pela autoridade competente, o secretário decidiu por bem, em nome da lisura da coisa pública, afastá-la de suas funções de imediato”, diz o comunicado.
Servidores da secretaria do Audiovisual contaram que Katiane não aceitou a demissão e teve de ser retirada do prédio pelos seguranças. Ela deixou o local afirmando que Roberto Alvim é um “traidor”.
Katiane foi empossada no dia 27 de novembro. Ela se tornou o braço-direito de Alvim desde o remanejamento da pasta para o Ministério do Turismo e foi a responsável por várias das indicações para cargos de confiança na secretaria, entre elas a do maestro Dante Mantovani para a direção da Funarte. Aluno do polemista Olavo de Carvalho, ele se diz terraplanista e afirma que o rock leva ao aborto e ao satanismo.
Katiane não tinha experiência no setor cultural. Antes de assumir o cargo, ela participou da formulação de um dossiê que fez o presidente Jair Bolsonaro aventar a possibilidade de acabar com a Ancine se não fosse possível impor “filtros de conteúdo” às produções brasileiras.