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Romance inédito de Gabo é lançado dez anos após sua morte; leia trecho

Chega às livrarias nesta quarta-feira, 6, 'Em Agosto nos Vemos', novo livro de Gabriel García Márquez

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 12h37 - Publicado em 6 mar 2024, 09h00
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  • Dez anos após a morte de Gabriel García Márquez, em 17 de abril de 2014, chega às lojas nesta quarta-feira, 6, o romance inédito do autor Em Agosto Nos Vemos, publicado postumamente. No enredo, em todo mês de agosto, Ana Magdalena Bach pega uma barca para uma ilha caribenha para colocar um ramo de flores no túmulo da mãe. E todo ano, ela se hospeda no mesmo hotel. Certa vez, um homem a convida para uma bebida e, se sentindo mais alegre, se afasta das amarras conjugais e cede aos avanços do desconhecido. Depois dessa experiência, ela passa a ansiar por cada mês de agosto, quando não apenas visita o túmulo de sua mãe como também tem a chance de escolher um amante diferente todos os anos.

    VEJA revela a seguir com exclusividade um trecho inédito da obra:

     

    Calçou uma luva de jardineiro que levava na bolsa e teve de limpar três lápides até reconhecer a de mármore amarelado com o nome da mãe e a data de sua morte, oito anos antes.

    Havia repetido essa viagem todo 16 de agosto, na mesma hora, com o mesmo táxi e a mesma florista, debaixo do sol de fogo no mesmo cemitério miserável, para pôr um ramo de gladíolos frescos no túmulo da mãe. A partir daquele momento não tinha nada a fazer até as nove da manhã do dia seguinte, quando saía a primeira barca de regresso.

    Seu nome era Ana Magdalena Bach, tinha completado quarenta e seis anos de vida e vinte e sete de um matrimônio bem estabelecido com um homem que amava e que a amava, com quem se casou sem terminar o curso de Artes e Letras, ainda virgem e sem ter namorado antes. A mãe tinha sido uma célebre professora de escola primária montessoriana que, apesar de seus méritos, não quis ser outra coisa até o último suspiro. Ana Magdalena herdou dela o esplendor dos olhos dourados, a virtude das poucas palavras e a inteligência para controlar seu temperamento. Era uma família de músicos. O pai tinha sido professor de piano e diretor do Conservatório Estadual durante quarenta anos. O marido, também filho de músicos e maestro, substituiu o professor. Tinham um filho exemplar que era o primeiro violoncelo da Orquestra Sinfônica Nacional aos vinte e dois anos e havia sido aplaudido por Mstislav Leopóldovich Rostropóvich numa sessão privada. Já sua filha de dezoito anos tinha uma facilidade quase genial para aprender de ouvido qualquer instrumento, mas só gostava disso como pretexto para não dormir em casa. Estava de namorico com um excelente trompetista de jazz, mas queria ingressar na ordem das Carmelitas Descalças, contrariando os pais.

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