A pandemia, que obrigou o mundo a se reinventar, também impôs novos desafios ao Rock in Rio? A edição de Lisboa, em junho, mostrou que a festa voltou a ser o que sempre foi, com uma dose extra de euforia. As dificuldades estão nos bastidores. Tudo requer mais antecedência. Muitos fornecedores fecharam as portas, os preços dispararam e ainda vivemos um caos na logística marítima e aérea.
Isso chegou a afetar o festival em Portugal? Sim. Todo o equipamento de som do principal palco extraviou no trajeto de navio do Brasil a Lisboa e tivemos de providenciar outro às pressas. Também houve tensão no deslocamento dos artistas. Os dois voos que trariam Ivete Sangalo e sua equipe foram cancelados e ela desembarcou a poucas horas do show. No caso de Anitta, as malas com os figurinos custaram a chegar.
Alguns artistas seguem temerosos em relação à Covid? Pelo contrário. Eles já estão todos em turnê pelo mundo, com as agendas cheias. A questão agora é ter público para tanto show.
Os ingressos para a apresentação de Justin Bieber no Brasil se esgotaram em doze minutos. Como ele enfrenta uma paralisia facial, há plano B? Estamos em constante contato com a equipe dele e até agora não há nada que indique que não virá. Mas lidamos com o imponderável o tempo todo. Em 2017, aconteceu o pior: Lady Gaga cancelou sua vinda na véspera, por motivo de saúde. A banda Maroon 5, que já estava no festival, entrou em seu lugar.
O Rock in Rio acontece a um mês das eleições e, já em Portugal, houve protestos contra o atual governo. É uma preocupação que o palco da música vire o da política? Em 2019, o receio era com a onda de polarização, aquela bateção de panelas, e não houve nada. Anos antes, o medo recaía sobre o movimento black bloc, e correu tudo bem. A Cidade do Rock é um lugar de celebração da música, da cultura, da harmonia. Política não se faz em festival, nem com torcida, e sim com debate. Mas em toda edição, seja quem estiver no poder, mandam sempre o presidente tomar no c*.
Quais as novidades previstas para esta edição no Brasil? Teremos um espetáculo baseado em uma lenda indígena, com produção digna da Broadway, uma mistura de orquestra, balé e cenografia que inclui uma cachoeira gigante. Em outro espaço, haverá um show que proporciona uma imersão na cultura moderna da Amazônia, com projeções, música e artes plásticas.
Depois de edições em Madri e em Las Vegas, qual a próxima parada? Em Portugal, promotores de Dubai foram ver e conversar com a gente. Seguem no radar o Chile e outra possível edição nos Estados Unidos. A expansão agora é dentro do próprio país, com o The Town, que ocorrerá em São Paulo, em setembro de 2023. Além de grandes artistas nacionais e internacionais, terá ali uma praça de jazz e um lado de artes forte, com muito grafite. Investir no Brasil vale a pena.
Publicado em VEJA de 3 de agosto de 2022, edição nº 2800