Desde que se livrou da saga Crepúsculo, o inglês Robert Pattinson tem se dedicado a trabalhar com cineastas de prestígio, como David Cronenberg (em Cosmópolis e Mapas para as Estrelas), Werner Herzog (Rainha do Deserto) e James Gray (Z – A Cidade Perdida). O ator de 31 anos sabe o que quer e costuma ir atrás dos diretores com quem deseja trabalhar. Foi assim com os irmãos Josh e Benny Safdie, jovens cineastas americanos de 33 e 31 anos que fizeram Amor, Drogas e Nova York (2015) e agora lançam no Brasil Bom Comportamento. “Sempre o achei uma pessoa muito interessante”, disse Josh Safdie a VEJA no Festival de Cannes deste ano, onde o filme foi um dos melhores em competição, apesar de não levar nenhum prêmio. “Mas fiquei surpreso com sua energia. E ele tem um lado meio ferido, passou por uma experiência traumática com toda a história do Crepúsculo.”
A parceria mais do que deu certo: Pattinson tem sua melhor atuação e está bem cotado para o Oscar. Ele está quase irreconhecível como Connie, um rapaz com várias passagens pela polícia que decide roubar um banco com o irmão Nick (vivido pelo diretor Benny Safdie), que tem problemas mentais. O assalto não dá certo, e Nick vai parar na prisão. O filme torna-se, então, a luta de Connie para libertar o irmão. Fazer um filme sobre irmãos foi uma experiência emocionante para Josh Safdie. “Teve um momento em que comecei a chorar e a rir ao mesmo tempo. Porque desde que éramos pequenos Benny me divertia com suas performances. Eu sei quando ele está prestes a chorar, mesmo quando segura as lágrimas”, disse. “Tivemos uma infância traumática. Divórcio, luta pela custódia, suicídio. Acho que isso acaba transparecendo”, completou Benny.
A preparação envolveu a leitura de uma biografia dos personagens antes dos eventos narrados no filme e improvisações de Robert e Benny em lava-jatos. “Rob experimentou o que é ter um irmão com problemas mentais. As pessoas simplesmente não falam contigo”, contou Josh. Eles também visitaram uma prisão. “Rob ficou preocupado, mas foi tudo bem até que, no fim, alguém vira e grita: ‘Edward!’”, disse Josh Safdie, referindo-se ao nome do personagem de Pattinson em Crepúsculo.
É raro ver um filme de gênero, um thriller cheio de ação, na competição em Cannes. Pois é, em princípio não estava em competição. Vieram dizer que estavam tentando nos proteger. E eu: “O quê? Não quero ser protegido, tá de brincadeira? Quero estar em competição”. Porque não é um filme de gênero simplesmente, embora tenha essa aparência. O filme tem muito realismo social e outras coisas. Para mim, era um roteiro único. É um filme dos Safdie. Tipo Safdie misturado com Blade Runner (risos).
Cinema comercial hoje é de super-herói. Aí, você tem de assinar contrato para seis ou sete filmes. São dez anos! Eu não estou descartando, mas não sei. E não me importo nem um pouco se o filme foi um estouro de bilheteria ou não
Você disse em uma entrevista que prometeu a Josh Safdie que, se estivessem na competição em Cannes, daria a ele um vaso sanitário japonês. Essa história é verdadeira? Assim que fiz a entrevista, soube que só se falaria disso (risos). Eu prometi que daria um desses vasos para o Josh se a gente entrasse na competição em Cannes. Primeiro mandei o assento. E ele disse que não era o combinado! Tive de mandar devolver. Mas nas semanas antes de Cannes tentei fazer o máximo de entrevistas possível, para ganhar um de graça. No fim, comprei o vaso sanitário, como prometido. É um vaso sanitário incrível (risos).
Não tem interesse de fazer filmes mais comerciais? Cinema comercial hoje é de super-herói. Aí, você tem de assinar contrato para seis ou sete filmes. São dez anos! Eu não estou descartando, mas não sei. E não me importo nem um pouco se o filme foi um estouro de bilheteria ou não.
Seu sucesso em Crepúsculo fez com que tivesse independência financeira pelo resto da vida? Não pelo resto da vida. Mas tenho certa liberdade. Não tenho filhos nem pensão alimentícia para pagar. Tive muita sorte.
Mas nunca ofereceram filmes de super-heróis? Nunca me ofereceram filmes de super-herói, nem fiz teste. Mas outras coisas grandes apareceram. Coisas de que gostei no começo e depois, no desenvolvimento, eca!
Você disse que não se preocupa com a bilheteria, mas não com o que acham de você. Você quer ser bem-recebido. Mas fiz coisas que não foram bem-recebidas, e isso não afeta minha opinião sobre o filme. Cosmópolis, por exemplo. Eu amo o filme. Estava nervoso sobre o que as pessoas iam pensar de Bom Comportamento. Achei que ia ter mais controvérsia porque vivemos tempos de muitas sensibilidades. É um filme bem punk em termos de trama. Eu não julgo os personagens, mesmo quando fazem coisas horríveis. Connie não é apresentado como um cara mau. As pessoas ficam ofendidas por tudo hoje em dia, talvez compreensivelmente. Mas claro que não quero ser objeto dessas críticas.
Como foi fazer um personagem que comete crimes, mas é afetuoso com seu irmão? Não sei quão afetuoso realmente é. É um narcisista. Uma das coisas da biografia é que eles não se conhecem realmente, porque ficaram separados muito tempo. Mas Connie ficou obcecado em ter família depois de ficar preso. É uma relação desequilibrada porque Nick tem problemas mentais, mas é a única relação que Connie é capaz de ter.