Em 2006, Riz Ahmed celebrou no Festival de Berlim o sucesso de seu primeiro longa-metragem A Caminho de Guantánamo, vencedor do Urso de Prata de melhor direção. A história acompanha quatro jovens britânicos muçulmanos injustamente acusados de terrorismo. A alegria da premiação foi interrompida quando Ahmed viu o roteiro ser vertido em realidade: ao retornar da cerimônia, o ator inglês de origem paquistanesa foi parado por policiais no Aeroporto de Luton e levado para um sala onde foi ameaçado, insultado e atacado. As autoridades até perguntaram se ele havia se tornado ator para promover a luta muçulmana.
A experiência foi descrita por ele em um artigo para o livro The Good Imigrant, que compila textos de minorias étnicas sobre raça e imigração no Reino Unido. Nascido em Londres, filho de pais paquistaneses de ascendência indiana, Ahmed descreveu no livro as três etapas da representação de minorias no cinema: o estereótipo (muçulmanos são terroristas, por exemplo), o estereótipo subversivo (caso do seu filme de 2006, em que o preconceito é evidenciado) e o que ele chama de “Terra Prometida”. Nesta última e rara etapa, o ator interpreta um papel que não está intrinsecamente ligado à sua raça. Aos 38 anos, Ahmed conseguiu atingir o ápice desta fase no belíssimo O Som do Silêncio, que lhe garantiu uma histórica indicação ao Oscar, que acontece no domingo, 25.
Na trama, Ahmed é o baterista de uma banda de heavy metal que está perdendo a audição. O difícil processo de autoaceitação vem embalado ainda com a dificuldade do personagem de lidar com a sobriedade, já que há anos ele luta contra o vício em drogas. Com o papel, Ahmed se tornou o primeiro muçulmano a ser indicado na categoria de melhor ator, na qual ele é um dos favoritos ao lado de Anthony Hopkins e Chadwick Boseman. A preparação para o filme foi intensa. Em sete meses, ele aprendeu a Língua Americana de Sinais (ASL, em inglês). Apesar de já ter uma ligação com o meio musical, Ahmed também precisou aprender a tocar bateria – o que fez durante o mesmo período.
O rosto do ator passou a ser mais conhecido após protagonizar a minissérie da HBO The Night Of, aclamada pela crítica. A brilhante atuação de Ahmed como Nasir Khan, um homem acusado de assassinato, lhe rendeu um Emmy de melhor ator em 2017. Antes, ele já dava as caras como coadjuvante em algumas produções de Hollywood, desde as mais independentes como O Abutre, ao lado de Jake Gyllenhaal, até blockbusters como Rogue One: Uma História Star Wars.
Além de atuar, ele canta rap sob o nome de Riz MC e faz parte da banda de hip hop Swet Shop Boys, ao lado do rapper Heems. Em suas músicas, Ahmed não tem papas na língua ao falar sobre racismo e islamofobia. Tangenciando o assunto imigração, o rapper fez uma participação na música Immigrants (We Get The Job Done) do álbum The Hamilton Mixtape, baseado no musical de sucesso de Lin-Manuel Miranda, Hamilton.
Mesmo estreando em 2019 no Festival Internacional de Cinema de Toronto, sem nenhuma distribuidora, O Som do Silêncio conseguiu uma projeção tão grande que, agora, é um dos mais elogiados entre os indicados ao Oscar de melhor filme. Nem mesmo a pandemia, que impediu o lançamento do longa nos cinemas, foi capaz de barrar seu sucesso, que deu-se através do streaming — a produção está disponível no Amazon Prime Video. Em entrevista ao Deadline, Riz Ahmed contou que todo o esforço foi recompensado no momento em que as indicações ao Oscar foram anunciadas. “Agora, mais e mais pessoas verão esse filme carregado de significados.” Que assim seja.