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‘Renato Russo agregaria muito hoje em dia’, diz o baterista Marcelo Bonfá

Ex-integrante do Legião Urbana, o músico lança seu novo álbum solo, 'Improvável Certeza', com canções que refletem sobre a vida e o autoconhecimento

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 out 2021, 14h26
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  • Quatro meses após a decisão da Justiça que permitiu aos dois músicos remanescentes usarem o nome da banda Legião Urbana — que pertence à empresa de Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo —, o baterista Marcelo Bonfá lançou seu novo álbum de inéditas, Improvável Certeza. O trabalho, com dez canções gravadas durante a pandemia, em seu sítio no interior de Minas Gerais, traz canções que refletem sobre a vida e o autoconhecimento, feitas em parceria com o seu filho, o guitarrista João Pedro, de 31 anos.

    O lançamento do disco coincidiu com o aniversário de 25 anos da morte de Renato Russo e a notícia de que Manfredini proibiu o lançamento de um documentário no Globoplay sobre a banda. Em entrevista a VEJA, Marcelo Bonfá falou do disco e desabafou sobre a longa briga na Justiça com o filho do colega:

    Durante a pandemia, você se isolou em seu sítio no interior de Minas Gerais e também em uma casa na Bahia. Como esse período se reflete na composição de seu novo álbum solo, Improvável Certeza? As letras de todas as músicas surgiram para mim de uma vez, em três ou quatro meses. Foi tudo muito rápido. Como eu já estou acostumado a fazer tudo de maneira independente, logo joguei as faixas nos serviços de streaming, fiz as fotos de divulgação, o clipe. 

    Em outubro, completou-se 25 anos da morte de Renato Russo. Os fãs prestaram suas homenagens, mas não houve nada oficial da banda. Como se sente nestes momentos? Eu entendo que as pessoas, por alguma razão, comemorem datas. Eu sempre tenho recordações dele. Você não apaga essas coisas da sua cabeça. Existem certos rituais e tradições interessantes em grandes civilizações. Como a nossa civilização encara a morte e a vida? Eu encaro assim: é tudo energia e somos seres energéticos em algum grau. Mesmo que a gente tenha uma forma material, ainda somos uma forma de energia. Essa é a minha “improvável certeza”. Nós simplesmente estamos nos refinando num plano material para retornamos para casa. Eu acho que o Renato está num lugar bem longe, mas é um lugar muito legal, muito foda. Se ele estivesse vivo, em qualquer área que ele estivesse atuando, ele se sobressairia pela sua criatividade e personalidade complexa. Ele faz muita falta e agregaria muito nos dias atuais. 

    Como foi a sua participação no documentário do Legião Urbana, que deveria ser lançado na Globoplay? Eu não estava envolvido na produção, então não sei o que houve. A nossa participação se deu por meio de imagens de arquivo e a liberação de músicas. Por meio dessas tratativas, também fiquei sabendo en passant que o documentário estava travado por razões que desconheço e por isso nem me retornaram mais com qualquer informação sobre ele.

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    Recentemente, Dado Villa-Lobos e você tiveram uma vitória judicial e foram autorizados a usar o nome Legião Urbana, que hoje pertence a empresa do filho do Renato Russo. Planejam voltar a se apresentar com o nome da banda? A parada é a seguinte, e essa não é a minha “improvável certeza”, é a minha certeza absoluta: nunca quisemos usar o nome da banda e em momento algum pretendemos voltar a usar. Que fique claro: a banda Legião Urbana acabou em 1996. Disseram que queríamos voltar com a banda depois da turnê em que o Wagner Moura e o André Frateschi cantaram. Ninguém vai ocupar o lugar do Renato Russo. Isso é inconcebível para qualquer um. O que aconteceu foi uma turnê de 30 anos que se chamava Dado e Bonfá Tocam Legião Urbana. Esse Legião Urbana é o nome do nosso primeiro álbum, que completou 30 anos naquele momento. Estávamos há quase 20 anos sem subir no palco junto com aquelas músicas e achamos um bom momento. Apesar de termos tocado para o Brasil inteiro com essa turnê, com mais de 400.000 pessoas, aquilo sempre foi Dado e Bonfá tocando suas próprias canções. E não o Legião Urbana.

    Viu a decisão judicial como um alívio? Foi um baita de um alívio. Esse processo foi inconcebível, surreal e bizarro. A marca Legião Urbana só ganhou força e notoriedade em razão do trabalho de três pessoas dentro de uma banda de rock. Ninguém fez uma empresa em 1982. Naquela época, nos juntamos para fazer uma banda de rock e a essa banda demos o nome de Legião Urbana. Dali para frente, todo o legado surgiu por causa de um trabalho musical em grupo. É um trabalho coletivo. Se Dado e eu não estivéssemos na banda, não seria Legião. Seria outra coisa. 

    Você e o Dado se viram recentemente? Não. Cada um está no seu caminho. A gente se fala, óbvio, mas depois disso tudo, a gente ficou machucadinho. Encheu o saco. Tudo o que rolou foi intenso. Estamos comemorando, mas cada um na sua. 

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    Se sente um ermitão em seu sítio, onde, inclusive, você produz cachaça artesanal? No meio da pandemia eu saí da cidade. O novo disco foi todo composto no laptop que levo na mochila. Mas eu nasci no interior de São Paulo e sempre tive uma ligação muito forte com a natureza. Então, nesse momento, eu simplesmente voltei para a natureza. Fico aqui criando, compondo, plantando. Meu filho mora aqui perto também, então a gente toca junto. Ele é um excelente guitarrista. Já a cachaça, ela está aí, mas não tenho focado nela não. Ganhamos prêmios com ela, mas dá muito trabalho. Tenho o meu canavial pequenininho, mas o resto é só mata. Não me sinto um ermitão, eu tenho internet e estou sempre conectado. Hoje em dia é difícil ser ermitão.

    Como  foi trabalhar com o seu filho João Pedro? João Pedro é meu guitarrista favorito. Ele já está com 31 anos, então tem os trabalhos dele e eu os meus. Esse período que passamos juntos é muito legal porque rolou muita troca. Já gravei várias bateras para ele e ele muitas guitarras para mim.

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