A produção do Grammy raramente acerta em homenagens. No ano passado a Motown, maior gravadora de música negra dos Estados Unidos, teve seu legado destroçado pela cantora Jennifer Lopez. A vítima desse ano foi Prince (1958-2016), o sujeito que revolucionou a soul music e o funk nos anos 80. O tributo prometia: Alicia Keys, a apresentadora da premiação, lembrou de quando telefonou para o cantor pedindo autorização para gravar How Come You Don’t Call Me. Em seguida, anunciou a presença de Sheila E, baterista e percussionista que por anos tocou ao lado de Prince. O problema – mais uma vez – foi nos cantores designados para interpretar os hits de Prince.
Os vocais principais ficaram com Usher. Um dos ídolos da música negra urbana nos Estados Unidos, ele é um interprete talentoso, mas carece de tudo que Prince tinha de sobra: carisma, força na interpretação e, acima de tudo, sensualidade. Sucessos como Little Red Corvette, When Doves Cry e Kiss foram despejados sem a menor cerimônia e dedicação. Usher até ensaiou uns passos de dança, mas sua única semelhança com Prince foi a camisa de babados. A lembrança contou ainda com a cantora Fka Twigs, que ensaiou uma coreografia desajeitada. Um musical que nem de longe esteve à altura do grande nome da música negra dos últimos tempos.