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Premiado, ‘Green Book – O Guia’ tenta se esquivar de controvérsias

Longa chegou a ser considerado um dos principais favoritos ao Oscar antes de ser atropelado por diversas polêmicas; entenda

Por Ana Carolina Avólio Atualizado em 24 jan 2019, 11h13 - Publicado em 24 jan 2019, 08h30
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  • Consagrado no Globo de Ouro ao levar três prêmios, entre eles o de melhor filme cômico ou musical, Green Book – O Guia chegou com força ao Oscar 2019 e foi indicado em cinco categorias na terça-feira 22. Apesar disso, seu favoritismo tem sido colocado em xeque com o surgimento de controvérsias e divergências que podem mudar sua trajetória até a estatueta de ouro. A produção estreia nesta quinta-feira no Brasil. 

    Inspirado em uma história real, o longa de Peter Farrelly (de Debi & Lóide 2) mostra a reviravolta na vida de Tony Lip (Viggo Mortensen) – um ítalo-americano criado em uma família predominantemente racista – quando este aceita trabalhar como motorista durante a turnê do renomado pianista negro Don Shirley pelo sul dos Estados Unidos em plenos anos 60, época em que a segregação racial fazia parte do cotidiano americano.

     

    Uma “sinfonia de mentiras”

    Entre o trio que assina o roteiro do longa está Nick Vallelonga, filho de Tony Lip, que utilizou depoimentos de seu pai para compor a narrativa da amizade entre Lip e Shirley. O roteirista e produtor não chegou a consultar a família do pianista a respeito da produção. Em entrevista à revista americana Variety, Vallelonga afirmou que a consulta não foi feita a pedido do próprio músico. “Sendo honesto, o próprio Dr. Shirley me disse para não falar com ninguém”, afirmou na ocasião. “Ele aprovou o que eu coloquei no filme e o que eu deixei de fora. (…) Foi difícil para mim, porque eu não queria trair a promessa que fiz a ele.”

    As divergências começaram a surgir assim que a família Shirley assistiu ao filme pela primeira vez. Maurice Shirley, irmão de Don, afirmou que o longa era uma “sinfonia de mentiras”. Um dos pontos que mais dividiu a família do pianista e Vallelonga foi justamente a relação do músico com seus familiares – retratada como distante e fria. “Uma das coisas que Donald costumava lembrar em seus últimos anos é que ele me criou”, defendeu Maurice. “Não havia um mês em que eu ficasse sem telefonar para ele.” Edwin Shirley III, sobrinho de Don Shirley, também refutou a ideia ao site Shadow and Act. “Isso foi muito doloroso. Está 100% errado.”

    O longa-metragem foi indicado a melhor roteiro original no Oscar, e é exatamente no ponto mais crucial do roteiro que mora outra divergência: segundo Patricia Shirley, cunhada de Donald, a dupla nunca manteve uma forte amizade como a retratada. “Era uma relação de empregado e empregador”, afirmou Patricia, que chegou a conhecer Tony Lip pessoalmente, ao Shadow and Act. Segundo ela, Don Shirley só mantinha relações estritamente profissionais com seus colegas. “Você me pergunta qual tipo de relação ele tinha com Tony? Ele o demitiu!”, acrescentou Maurice Shirley.

    As controvérsias foram tantas que Mahershala Ali, intérprete de Don e indicado ao Oscar pelo papel, ligou para a família Shirley para se desculpar. “Eu recebi uma ligação de Mahershala Ali, uma ligação muito respeitosa, feita por ele em pessoa. Ele ligou para mim e para o meu tio Maurice, se desculpando profusamente caso tenhamos ficado ofendidos”, contou Edwin ao mesmo site. “Ele disse: ‘Caso eu tenha ofendido vocês, sinto muito. Fiz o melhor que podia com o material que tinha disponível. Não estava ciente de que existiam parentes próximos com quem eu poderia ter conversado’.”

     

    …. E mais polêmicas

    Como se as divergências relativas ao roteiro não bastassem, dois dos três produtores responsáveis pelo filme se envolveram em escândalos que vão na contramão da mensagem divulgada pelo longa-metragem. Apesar de Green Book – O Guia pregar o respeito ao próximo, livre de preconceitos, o roteirista Nick Vallelonga, aparentemente, não prestou muita atenção à lição. 

    Em um tuíte de 2015 a Donald Trump, Vallelonga afirmou ter visto, pela televisão, muçulmanos em Nova Jersey comemorando a queda das Torres Gêmeas no ataque de 11 de setembro de 2001. A declaração foi trazida à tona e, adicionada ao fato de que Mahershala Ali é muçulmano, provocou grande repercussão nas redes sociais.

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    O roteirista, então, pediu desculpas. “Passei minha vida tentando retratar essa história de superação das diferenças. (…) Peço desculpas a todos os associados a Green Book“, declarou Nick Vallelonga. “Peço desculpas, especialmente, ao brilhante e gentil Mahershala Ali, e a todos os membros da fé muçulmana, pela dor que eu causei. Também sinto muito pelo meu falecido pai, que mudou tanto devido a sua amizade com Dr. Shirley, e eu prometo que essa lição não foi esquecida por mim.”

    vallelonga tweet (1)
    (Reprodução/Twitter)

    As coisas também não ficaram fáceis para Peter Farrelly após o diretor ter admitido que costumava mostrar seu pênis a seus colegas de trabalho – como a atriz Cameron Diaz – nos bastidores de seus filmes. “Verdade. Fui um idiota. Fiz isso décadas atrás e pensei que estava sendo engraçado, e a verdade é que estou constrangido e isso me faz estremecer agora. Eu me desculpo profundamente”, afirmou Farrelly. A confissão chega em uma época marcada pelo movimento #MeToo, que reúne uma série de denúncias sobre assédios e abusos sexuais na indústria hollywoodiana.

    Green Book – O Guia conquista ao mostrar seus protagonistas com personalidades opostas – mas ainda assim, complementares – e pelo tempero agridoce do roteiro, ora focado no humor de Lip, ora retratando o racismo sem rodeios e amenidades. Resta saber se em um ano com outros bons concorrentes e após tanta polêmica, ainda será reconhecido no Oscar. 

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