Um prédio histórico no centro de Roma, na Itália, que abriga o única pintura de teto feita por Caravaggio (1571-1610), irá a leilão em 18 de janeiro de 2022 por 471 milhões de euros, o que equivale a aproximadamente 2 bilhões de reais na cotação atual. A obra, intitulada Júpiter, Netuno e Plutão, possui 2,75 metros de largura e foi encomendada por volta de 1597 pelo cardeal italiano Francesco Maria Del Monte para adornar o teto de seu laboratório na Casino di Villa Boncompagni Ludovisi, mais conhecida como Villa Aurora.
A pintura retrata os três deuses que dão nome ao mural através de seus respectivos animais — a águia de Júpiter, o hipopótamo de Netuno e Cérbero, o cão de três cabeças, de Plutão — em uma cena alegórica que representa o interesse do cardeal Del Monte pela alquimia. O trabalho é ocasionalmente chamado de afresco, mas por não ter sido executado com pigmentos à base de água em gesso fresco e sim com tinta a óleo, então trata-se de uma pintura de teto. “É uma obra extraordinária e difícil de avaliar, visto que foi o único mural já feito por Caravaggio e por isso não tínhamos nada para comparar”, contou Alessandro Zuccari, professor da Universidade Sapienza que supervisionou a avaliação da obra em entrevista ao jornal britânico The Guardian.
A propriedade, que possui 2.800 metros quadrados, foi construída no final do século XVI por Del Monte como um pavilhão de caça, já dentro do extenso retiro campestre Villa Ludovisi — nome dado em homenagem ao nobre Ludovico Ludovisi. Em 1620, o cardeal vendeu a vila para Ludovisi e no final do século XIX toda a propriedade foi vendida para o governo da cidade de Roma, onde grande parte dos edifícios foram destruídos para dar lugar à Via Veneto. O que sobrou foi apenas a Villa Aurora. Além de Caravaggio, o local abriga outras pinturas e obras de arte valiosas embutidas em sua arquitetura, como um afresco de teto em sua sala central, pintado em 1621 pelo artista barroco Guernico, que mostra a deusa Aurora em sua carruagem.
O leilão acontece depois de uma longa disputa de herança após a morte do proprietário, o príncipe Nicolò Boncompagni Ludovisi, em 2018. Por ser protegido pelo Ministério da Cultura da Itália, a propriedade pode ser adquirida pelo Estado, que terá o direito de cobrir o valor pago em leilão.