Em 5 de outubro de 2018, o quadro Girl with Baloon, do misterioso (e maroto) artista britânico Banksy, causou furor mundial: segundos depois de ser arrematado por 1,04 milhão de libras esterlinas (cerca de 7 milhões de reais na cotação de hoje), caiu nas garras de um triturador de papel escondido na moldura e teve metade da tela desfeita em tirinhas. Parcialmente autodestruído, o quadro foi rebatizado para Love Is in the Bin (“o amor está na lixeira”, em tradução livre) – e, agora, teve seu valor astronomicamente projetado para 18,6 milhões de libras (135 milhões de reais) em leilão da Sotheby’s nesta quinta-feira, 14.
Antes estimada entre 4 e 6 milhões de libras, a soma é um recorde para o artista e desbanca Game Changer, quadro de 16,7 milhões de libras feito em homenagem aos profissionais da saúde durante a pandemia. Conhecido por prezar pelo anonimato, Banksy também é defensor de uma arte sem dono e sem cifras – suas telas preferidas, aliás, são os muros da Inglaterra. Logo, é uma doce ironia pensar que a performance dita “anticapitalista” ampliou, ainda mais, os lucros em cima da obra (estrategicamente picotada para deixar o balão em forma de coração intacto).
Em outra cruzada contra o capital, dessa vez mal-sucedida, Banksy perdeu, por causa de seu anonimato, os direitos da obra The Flower Thrower, que vê um manifestante atirando flores ao invés de um coquetel molotov. Com isso, a empresa Full Collor Black pode continuar a lucrar com a estampa do desenho em cartões comemorativos à revelia do criador. A decisão judicial em favor da empresa não só tirou de Banksy o registro da obra, mas uma dinherama de despesas jurídicas do processo, a incluir os custos da Full Collor Black.