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Patrocinadores deixam montagem de Shakespeare ‘com Trump’

Adaptação da peça Júlio César', sobre o romano, tem protagonista semelhante ao magnata

Por Da redação
13 jun 2017, 09h24
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  • A semelhança entre um empresário loiro, protagonista da peça Julio César, de Shakespeare, e o presidente Donald Trump, representada ao ar livre no Central Park, desatou nova controvérsia sobre a liberdade de expressão e censura nos Estados Unidos. Depois de protestos enfurecidos da Fox News, vinculada aos conservadores americanos, e do filho mais velho do presidente americano, Donald Trump Jr., nas redes sociais, a Delta Airlines e o Bank of America, duas grandes empresas que patrocinavam o Public Theater e o festival “Shakespeare no parque”, do diretor Oskar Eutis, retiraram apoio ao evento.

    A Fox News noticiou no domingo que a peça parecia representar o presidente americano — que é muito impopular em Nova York — “sendo brutalmente esfaqueado até a morte por mulheres e minorias”. Julio César veste na obra a roupa típica de Trump — calças e paletó escuros, camisa branca e gravata vermelha. Sua esposa na obra tem sotaque eslavo, como Melania Trump. “Sua representação como um César petulante de terno azul, com banheira de ouro, e uma esposa eslava que faz caretas eleva, os ataques a Trump no palco a um outro nível surpreendente”, escreveu o jornal The New York Times na sexta-feira passada, fazendo coro às impressões da Fox News.  Em um tuíte, Donald Trump Jr. questionou o financiamento da montagem.

    Em comunicado, a Delta afirma que a “gráfica” representação da nova montagem, em que o protagonista é esfaqueado por mulheres e outras minorias, “não reflete os valores” da empresa. “Sua direção artística e criativa ultrapassou a linha do bom gosto”, diz o texto. Para o Bank of America, a obra pretendia “provocar e ofender”. “Se tivessem nos comunicado esta intenção, teríamos decidido não patrociná-la”, declarou o banco.

    Já a American Express, que também patrocina o teatro, emitiu um comunicado na qual esclarece que não deu dinheiro para esta produção.  Em contraponto, um movimento surgiu nas redes sociais para levantar fundos para o Public Theater.

    O texto original de Shakespeare data de 1599, mas, pelo visto, ainda pode provocar o público.

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    Saco de pancadas

    A polêmica recorda o episódio, do fim de maio, quando a comediante Kathy Griffin divulgou um vídeo em que levanta uma falsa cabeça de Trump decapitada. Apesar de pedir desculpas por, segundo disse, ultrapassar um limite ético, a humorista foi dispensada pela rede CNN, onde conduzia a cada ano a transmissão de Ano Novo.

    O teatro defendeu-se, afirmando que “de nenhuma maneira defende a violência contra ninguém”. “A obra de Shakespeare e nossa produção têm o argumento contrário: aqueles que tentarem defender a democracia por meios não democráticos pagam um preço terrível e destroem a mesma coisa que estão lutando para salvar”, afirmou.

    O teatro admitiu que a representação gerou “discussões acaloradas”, mas insiste em que “esta discussão é exatamente a meta do nosso teatro comprometido civilizadamente, este discurso é a base de uma democracia sadia”.

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    Shakespeare contemporâneo

    A obra de Shakespeare, que se passa no ano 44 a.C., “nunca foi tão contemporânea”, destacou o Public Theater em seu site. Julio César possui “uma personalidade magnética, irreverente” e está “obcecado pelo poder absoluto”, explica. “As instituições com as quais crescemos, que herdamos da luta de muitas gerações, podem se esvair a qualquer momento”, alerta o diretor, Oskar Eutis.

    O democrata Scott Stringer, auditor das contas da cidade de Nova York, um cargo eletivo, também entrou na discussão. Stringer tuitou as cartas escritas aos presidentes da Delta Airlines e do Bank of America, com a mensagem “Que erro. Na verdade, Julio César ajudaria no futuro”. “Sua decisão de restringir efetivamente a expressão do que é uma obra literária eterna (…) envia uma mensagem equivocada. Como muitos nova-iorquinos e americanos, não acho que retirar vosso patrocínio seja o correto”.

    Chelsea, filha da rival democrata derrotada por Trump, Hillary Clinton, e do ex-presidente Bill Clinton, também deu sua opinião. “Iria vê-la? Provavelmente, não. Protestaria ou me queixaria disso? Definitivamente, não”, respondeu a um internauta que lhe perguntou o que faria se Julio César fosse representado como seu pai ou sua mãe, e eles fossem assassinados.

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    A peça é representada em Nova York desde 23 de maio e continuará em cartaz até 18 de junho.

    (Com agência France-Persse)

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