Depois que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) autorizou a Sisan, braço imobiliário do Grupo Silvio Santos, a erguer torres residenciais em volta do Teatro Oficina, prédio reformado pela arquiteta Lina Bo Bardi que havia sido tombado, provavelmente o desfecho da história será favorável ao Homem do Baú.
Essa é a avaliação do engenheiro civil Cyro Laurenza, atual presidente do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), que será o último órgão de proteção ao patrimônio histórico e cultural a dar sua decisão sobre o caso. No ano passado, o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), que é estadual, foi o primeiro a liberar o empreendimento imobiliário de Silvio Santos, revertendo a tendência em uma luta de cerca mais de trinta anos do apresentador e empresário com o diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso.
Laurenza diz não poder antecipar votação do órgão, que deve ocorrer a partir de agosto, por causa do recesso em julho. E reconhece que, independente, o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) pode tomar uma decisão distinta da adotada pelo Iphan, mas acha difícil que o fim da história seja outro. “A decisão pode até ser diferente, mas seria inócua, pois apenas demonstraria a vontade política do conselheiro, tratando-se de uma irresponsabilidade. O Ministério Público não permitiria”, diz o engenheiro, que entende não ser “da alçada” do Conpresp “desapropriar propriedades públicas e privadas como também o de tombar um terreno vazio sem nenhum valor relativo ao Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo”.
Ele também acha que deve pesar na decisão do órgão o fato de o bairro do Bexiga ou Bela Vista, onde está localizado o teatro, ter outros empreendimentos imobiliários aprovados, à espera de uma melhora na economia para acontecer. “(O projeto da Sisan) não é o único conjunto de torres na região, há empreendimentos assemelhados aguardando dias melhores da economia”, afirma. “Mas os conselheiros e o DPH têm total liberdade de expressão”, ressalta.
A companhia teatral liderada por Zé Celso pleiteia os três terrenos em volta do Oficina – aos lados e ao fundo, a fachada dá para a rua – para a criação de um parque público, que já estava nos planos de Lina Bo Bardi. A arquiteta ítalo-brasileira, a mesma que criou o Masp, a Casa de Vidro e o Sesc Pompeia, morreu antes da inauguração de sua obra, que reformou completamente e deu novas feição e dinâmica ao Teatro Oficina.
Além disso, o Oficina, bem como os arquitetos, artistas e intelectuais que defendem o teatro nesse caso, alega que uma torre ao lado do janelão aberto por Lina em uma das laterais do prédio interromperia o seu diálogo com o entorno, o bairro e a cidade, o que a companhia chama, usando um termo teatral, de “contracenação”.