Apontado como o vilão da segunda temporada do MasterChef, que termina nesta terça-feira, Fernando Kawasaki garante que é bem menos explosivo e arrogante do que o programa da Band mostrou. “Como em todo bom reality, a ilha de edição montou personagens para fazer uma espécie de novela”, diz ao site de VEJA. “A gente tinha uma mocinha, um mocinho, o bonitão, o coitado e, claro, precisava de um carrasco, papel que foi aplicado a mim por causa da estratégia de jogo que adotei.” Fernando conta que, desde que ficou sabendo que estava entre os selecionados para o programa, começou a estudar gastronomia, mesmo estando de férias de seu emprego em uma gravadora. “Eu entrei lá para ganhar, para jogar”, diz. “Levava muita fé em mim.”
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Fora do programa, ele garante que não percebe a mesma recepção negativa das redes sociais nas ruas. “Quem vai aos eventos em que eu cozinho e vai conversar comigo percebe que eu sou diferente e a resposta do pessoal que me encontra na rua também é bastante distinta da que tenho recebido na internet, onde as pessoas te xingam e não mostram o rosto”, diz ele, que confirma ter ficado com receio da resposta do público após a sua saída do reality. “Confesso que fiquei bastante ansioso porque estava querendo trocar de carreira e temia ir para uma área onde as pessoas me odiassem.”
Apesar de se imaginar escalado para um papel, Fernando parece guardar alguma mágoa da chef Paola Carosella, jurada que o criticou pela arrogância na competição. Em uma entrevista, ela disse que “quem se acha a nova revelação da gastronomia” não deveria ir para um reality, mas para um restaurante. “Eu não entendi esse posicionamento dela, já que ela participa de um reality show, julga pessoas que estão ali lutando para conquistar um sonho. Foi uma contradição muito grande. Tenho certeza de que as reservas no Arturito (restaurante de Paola em São Paulo) estão bombando por causa do programa. Acho feio cuspir no prato em que se come”, alfineta Fernando.
Confira a entrevista com Fernando Kawasaki abaixo:
O que tem feito desde a sua saída do MasterChef? Eu tenho buscado usar o tempo vago que eu tinha, fora do trabalho, para aplicar nesses eventos com a Aritana, o Raul e o Gustavo, em uma tentativa de começar uma transição da minha atual profissão para o mercado da gastronomia. Eu ainda trabalho como gerente de projetos de novos negócios na Universal Music, não é tão fácil mudar de uma área para a outra, e eu já atuo há dez anos no mercado publicitário e na indústria fonográfica. É isso o que paga as minhas contas, mas esses eventos que a gente vem fazendo também têm grande valia para mim, tanto para adquirir experiência quanto para ajudar financeiramente no final do mês.
Para quem está torcendo na final? Para o Raul, ele é praticamente um irmão. Desde o começo do programa, pelo fato de a gente ter vindo da mesma área, ele também é publicitário, a gente tinha muitos contatos em comum e o papo fluiu mais rápido. Nós temos muitas afinidades, tanto é que eu, o Raul e o Gustavo criamos um canal no YouTube, uma coisa extrovertida.
E aquela história de que você e o Raul tinham feito um trato sobre a final do programa? Está de pé. Isso foi logo no começo do programa, eu apostava muito nele e acho que ele apostava muito em mim, também. Na van a caminho da Band, a gente sentava um do lado do outro e ia trocando ideia, cada um com um livro de gastronomia na mão. Até que um dia ele me disse: “Você está ligado que você vai para a final, né?” e eu respondi que ele também estaria entre os finalistas. Então, a gente fez um trato de que quem ganhasse o prêmio de 150.000 reais daria 5.000 reais para o outro.
Durante o programa, você acabou ficando conhecido como o vilão da temporada. O que acha disso? Não diria um vilão, mas um carrasco. A preparação que eu tive para o programa foi diferente daquela que uma boa parcela dos outros participantes teve. Quando eu fui informado de que havia sido selecionado para o programa, eu estava de férias, mas no mesmo dia comecei a estudar. Eu entrei lá para ganhar, para jogar. Sou um bom jogador, não só no quesito cozinha, mas estrategicamente falando. Isso não foi bem visto por todos, e, como em todo bom reality show, a edição do programa montou personagens meio que para fazer uma novela. A gente tinha uma mocinha, um mocinho, o bonitão – que claramente era o Marcos -, o coitado e, claro, precisava de um carrasco, papel que foi aplicado a mim por causa da estratégia de jogo que adotei. Eu lembro que toda a intriga do programa começou com a Iranete e o Cristiano, ele virou o primeiro vilão. Depois, esse papel foi passado para a Aritana, que deu a si mesma a imunidade em uma prova. Conforme foram acontecendo as coisas e as pessoas foram eliminadas, o reality foi sentindo a necessidade de encontrar novos vilões. E, como eu fiquei entre os cinco últimos, acabei assumindo o papel.
A Paola falou em uma entrevista que quem acha que é a “próxima revelação” da gastronomia não entra em um reality show, vai trabalhar em um restaurante. O que acha disso? Eu não entendi esse posicionamento dela, já que ela participa de um reality show, julga pessoas que estão ali lutando para conquistar um sonho. Foi uma contradição muito grande, não sei de onde ela tirou essa argumentação, mas ela é uma chefe muito bem conceituada e acredito que deve ser difícil para ela também, estar de repente com tanta visibilidade. Mas eu tenho certeza de que as reservas no Arturito (restaurante de Paola em São Paulo) estão bombando por causa do programa e de que a renda dela aumentou com os contratos publicitários que os jurados assinaram. Acho meio feio cuspir no prato em que se come. A gente se inscreveu no MasterChef porque a gente sente que tem um dom e queria uma oportunidade para trabalhar nessa área. Lembro que quando vi essa entrevista senti como se tivesse levado um banho de água fria.
Você tem um temperamento forte mesmo ou acha que a edição do programa te mostrou com um jeito mais explosivo? O programa mesmo acaba te deixando mais nervoso, não é todo mundo que tem uma calma como a da Jiang. O contexto, a pressão, com três chefes muito conceituados avaliando você, a questão do tempo, com sua cabeça trabalhando a mil para ter boas ideias, elaborar bons pratos, faz com que você se estresse um pouco. Mas, fora do programa meu pavio é longo, bem ao contrário do pavio curto que eu demonstrei na televisão. Isso foi exposto de forma a atrair o público, e acho que funcionou. Quem vai aos eventos em que eu cozinho e conversa comigo percebe que eu sou diferente e a resposta do pessoal que me encontra na rua também é bastante distinta do que tenho recebido na internet, onde as pessoas te xingam e não mostram o rosto. As pessoas demonstram muito carinho, o que me ajudou bastante também – confesso que fiquei bastante ansioso porque estava querendo trocar de carreira e temia ir para uma área onde as pessoas me odiassem.
As pessoas tietam na rua você? Sim, e eu adoro isso! A gente sabe que essa visibilidade que a gente tem atualmente é volátil, daqui a pouco as pessoas vão custar a lembrar quem é cada um de nós. Então, não me incomodo nem um pouco com a tietagem, é super gostoso, recebo com muito carinho, ainda mais depois de ter recebido tantas críticas. Faço questão de conversar com todo mundo, perguntar o nome. Para mim, é gratificante, estou achando tudo o máximo.
Tem medo da volatilidade da fama? Não. Bem antes de escolher participar do programa, eu tinha o sonho de trabalhar com o mundo da gastronomia, nunca contei com essa entrada no MasterChef. Eu queria começar com um food truck, para conhecer o mercado, ver como é e depois trabalhar com as coisas de que gosto. Nunca passou pela minha cabeça que eu seria o personagem de um programa tão grande quanto o MasterChef. Os outros dezessete finalistas também queriam realizar um sonho, procuravam um trampolim que os levasse mais perto do sonho deles, não buscavam a fama. Gostaria muito que a minha fama viesse pelo que eu cozinho, não pelo que eu fiz na TV.
Hoje. você mantém algum tipo de contato com os jurados? Na verdade, não. Mesmo durante o programa, a gente tinha um acesso muito limitado aos jurados. Quando acabavam as gravações, eles iam para o camarim deles e a gente ia para o nosso, a própria produção afastava um pouco a gente, para não criar nenhum tipo de predileção ou vínculo afetivo entre os chefes e os candidatos. Após o programa, o vínculo também foi mínimo, pelo menos para mim. A vida meio que seguiu para todos nós. Tenho certeza de que, com a visibilidade que o MasterChef trouxe, os jurados também estão trabalhando bastante. E eu não tive nenhuma afinidade monstruosa com nenhum dos chefes, eu mantinha alguma conversa com o Henrique Fogaça, porque às vezes a gente se encontrava em um bar de rock’n’roll ou fumando na calçada. Eu conseguia conversar com ele, até porque ele é mais aberto, mais extrovertido, também. Com o chefe Erick Jacquin e a Paola Carosella, eu nunca mantive uma conversa fora do programa, para ser sincero.
Acha que sua eliminação foi justa? Foi, foi justíssima. Meu prato tinha uma série de erros. O sangue da carne em cima do purê foi um fator decisivo. Tanto eu quanto a Izabel fomos muito mal naquele dia, mas o sangue acabou com o aspecto visual do prato. No MasterChef, nós somos avaliados pelo prato do dia, não pela nossa trajetória. Então, achei uma eliminação justa, sim.
O que acha da avaliação dos jurados? De modo geral, os três têm critérios muito parecidos. Mas o Jacquin é mais rigoroso, cobra mais e não poupa críticas, diz mesmo que seu prato parece vômito de bebê ou cocô de pombo. Em contrapartida, é o chefe que dá mais opiniões sobre um prato, não guarda nem os elogios.
No MasterChef da Austrália, alguns episódios são dedicados a masterclasses, ou seja, aulas em que os jurados ou chefes convidados dão aulas de gastronomia, em alguns casos refazendo pratos dos candidatos que não deram certo. Acha que esse tipo de coisa faz falta na edição brasileira do reality? Para o participante e para o amante da gastronomia, seria fundamental, lindo, maravilhoso. Mas, para se encaixar no formato da televisão brasileira, acho que o MasterChef teve que adotar um esquema mais parecido com o de uma novela, em que as coisas aconteciam em torno das intrigas entre os participantes. Na Austrália, a cultura gastronômica é muito relevante para os cidadãos. A gente ainda está meio carente nessa questão, de ver gastronomia como cultura, apesar de a nossa culinária ser maravilhosa, deliciosa e colorida. A gente ainda não aprendeu a ver a gastronomia brasileira como um produto nacional, como uma paixão. O interesse por esse assunto, graças ao programa, também está crescendo. A edição brasileira poderia, sim, mudar um pouco, focar mais na gastronomia, nas aulas. Tenho certeza de que o público absorveria isso.
Qual candidato da segunda temporada era o mais forte? Acho que o Lucas era uma pessoa que, como eu, se aplicou muito nas provas, devorava livros. A Izabel também, desde o começo, mostrou que tinha muita habilidade, apesar de ter saído na prova da massa. Eu via muito potencial no Rodrigo, que saiu super cedo, mas é um cara que entende muito de carne. Somos amigos e eu o vejo cozinhando hoje e fico impressionado. O Raul tem um conhecimento de tempero internacional, viajou a alguns lugares e trouxe boas referências. Eram participantes que eu via lá na frente comigo, porque eu também levava muita fé em mim.
Você também fez muitos amigos no programa. De quem ficou mais próximo? Eu e a Aritana estamos muito próximos, a gente se fala todo dia, troca mensagens. Estamos desenvolvendo algumas coisas juntos, relacionadas com comida de rua. Fiquei amigo do Raul, do Gustavo, que também achei que tinha mais a mostrar no programa, da Jiang e do Murilo, que moram super perto da minha casa e são uns amores, sempre que a gente pode, vai ali na rua Augusta (em São Paulo) para beber alguma coisa e jogar conversa fora. De forma geral, todos nós nos aproximamos muito.
Quais são seus planos? Ainda não tenho um plano muito definido. Temos que ter cautela no planejamento, daqui a três meses tudo pode mudar, estamos vivendo em um país em crise, em que as pessoas estão investindo cada vez menos. Estou aproveitando esse momento da fama para trabalhar em eventos de rua porque o investimento é baixo e se não der certo dá para fechar na hora e seguir em frente. Minha ideia era ter um food truck e rodar o Brasil, usando ingredientes locais. Mas estamos começando devagar.
O que aprendeu com o MasterChef? Aprendi a ter mais cuidado com a maneira como você coloca sua opinião. Aprendi que as relações interpessoais quando você está em um programa de televisão têm que ser levadas com cuidado, porque você expor seu verdadeiro eu sem filtro pode ser danoso para a sua pessoa. E que cozinhar sob pressão não é legal.