Uma obra de arte digital criada ao longo de 5.000 dias pelo artista americano Mike Winkelmann, o Beeple, foi leiloada pela prestigiosa casa de leilões Christie’s, marcando sua estreia em um mercado inovador (e promissor): a venda de obras de arte puramente digital certificadas coma tecnologia NFT (non-fungible token), que garante sua autenticidade. Após cerca de 180 lances, uma imagem puramente digital, ou seja um arquivo do tipo “.jpg”, foi vendida por 69 milhões de dólares, cerca de 383 milhões de reais. O preço é um novo recorde para uma obra de arte que existe apenas digitalmente. O leilão durou duas semanas e começou com o valor de 100 dólares. A obra é a terceira maior venda em leilão da Christie’s de um artista vivo, independentemente se ela é digital ou não.
A obra tem 21.069 x 21.069 pixels (319.168.313 bytes). Batizado de Everydays: The First 5.000 days, o trabalho é uma colagem de desenhos feita por Beeple e publicados em seu Instagram diária e ininterruptamente durante 13 anos desde 1º de maio de 2007. Morador de Carolina do Sul, nos Estados Unidos, Beeple é um designer gráfico que produz imagens irreverentes sobre o cotidiano dos Estados Unidos, como se fossem cartuns de um jornal. No ramo da publicidade, ele já colaborou, por exemplo, com marcas como Louis Vuitton e Nike, bem como com artistas como Katy Perry e Childish Gambino.
A obra não está organizada em ordem cronológica e o artista aglutinou temas recorrentes e esquemas de cores para formar um padrão estético. A pessoa que adquiriu a obra, no entanto, poderá aproximar o zoom para olhar de perto cada imagem. Os temas de seus desenhos incluem o medo da tecnologia, críticas da sociedade, ressentimento pela riqueza e a recente turbulência da política americana.
Esta não é a primeira vez que Beeple vende uma obra de arte digital. Em outubro de 2020, o colecionador de arte Pablo Rodriguez-Fraile, de Miami, comprou por cerca de 67 mil dólares um vídeo de 10 segundos feito por Beeple, revendido na semana passada por 6,6 milhões de dólares. O pulo do gato é justamente a tecnologia do token não-fungível (na tradução literal), que permite que uma obra de arte seja autenticada como única. A palavra “fungível” significa que algo por ser substituído por outro idêntico, da mesma espécie, qualidade e quantidade. Logo, o “não-fungível” não poderia ser reproduzido. Ele é validado como único nas redes digitais pela tecnologia blockchain, a mesma que garante a segurança de criptomoedas como a bitcoin.