Foi grande o barulho quando o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, fechou as portas por quatro meses para uma reforma de expansão física e, por assim dizer, ideológica. A nonagenária instituição prometeu dar maior visibilidade a obras produzidas por minorias e artistas de países pobres, rendendo-se à correção política — que denuncia a hegemonia do “homem branco europeu” na arte.
O resultado da reforma, que custou 450 milhões de dólares, é menos alarmante do que se temia. Van Gogh, Monet, Matisse e Picasso ainda são as estrelas do acervo. Hoje, porém, dividem o espaço expositivo com artistas de nações “periféricas”. Um autorretrato da mexicana Frida Kahlo surge ao lado de uma obra do catalão Joan Miró. A brasileira Tarsila do Amaral, com seu onírico A Lua (1928), fica de frente para um trabalho de Pablo Picasso. Um dos maiores tesouros do espanhol, Les Demoiselles d’Avignon (1907), agora faz par com American People Series #20: Die (1967), da artista e ativista negra americana Faith Ringgold — que emula Picasso e sua Guernica para falar de violência racial.
As mudanças na distribuição das obras são só uma das readequações feitas pelo MoMA para dialogar com as novas gerações — que desprezam as tradicionais categorizações de gêneros e estilos na arte. Não deixa de ser também uma piscadela esperta para esse público a criação de espaços de circulação mais arejados, ideais para multidões produzirem suas fotos e vídeos instagramáveis. Com visitação em queda desde 2015, o MoMA aposta muito nesse banho de loja.
Publicado em VEJA de 29 de janeiro de 2020, edição nº 2671