Tempos atrás, ao visitar sua mãe em um retiro para aposentados no sul da Inglaterra, Richard Osman teve uma ideia luminosa. Nascido num lugarejo em Sussex, ele cresceu lendo as histórias de Miss Marple, senhorinha convertida em detetive nos romances de Agatha Christie. Ao rever o universo interiorano da infância, Osman concebeu sua própria trama protagonizada por velhinhos que se revelam feras da investigação. “Eu sabia que queria escrever um livro algum dia”, disse a VEJA. Mas a insegurança travou o projeto: celebridade da rede BBC, na qual faz sucesso à frente do game show Pointless, ele temia ser considerado apenas mais um famoso da TV metido a romancista.
O Clube do Crime das Quintas-Feiras
Escrito em segredo, o livro de estreia de Osman só se tornou público depois de devidamente aprovado por uma agente literária. Lançado em 2020, O Clube do Crime das Quintas-Feiras teve mais de 2 milhões de cópias vendidas. A obra — que saiu no Brasil pela Intrínseca — fez dele o autor mais pop em seu país desde J.K. Rowling e Dan Brown. A sequência, O Homem que Morreu Duas Vezes, teve 115 000 cópias comercializadas no mercado britânico em apenas três dias e acaba de chegar aqui pela mesma editora. Um sucesso à altura do autor — Osman é um gigante com impressionantes 2 metros.
Fã confesso de Agatha Christie, ele preenche a série com referências a The Tuesday Night Club, conto que apresentou Miss Marple ao mundo. Emulando a fórmula, Osman pinta um retrato nada tedioso da velhice. Em sua obra de estreia, quatro idosos de um asilo se encontram toda quinta-feira para debater assassinatos sem solução, até que um crime na região permite que sigam pistas quentes. No segundo livro, um agente sessentão do serviço secreto envolve o quarteto em uma investigação ligada à máfia.
O clube das Terças-Feiras e outras histórias
Aos 50 anos, Osman transborda a fleuma e o humor tipicamente britânicos a cada página. Assim como seus personagens, ele é a cara da Inglaterra: escreve sempre acompanhado de uma boa xícara de chá e, em seu tempo livre, assiste a alguma partida de seu time de futebol preferido, o Fulham. Agora, está prestes a furar a bolha do êxito regional — em breve, seu primeiro livro terá uma adaptação cinematográfica dirigida por Steven Spielberg. “Isso mostra que as pessoas gostam da história por si, e não por me ver na TV”, comemora o autor. Para ele, o crime compensou — e muito.
Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2021, edição nº 2759
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