Adolescentes sul-coreanos com roupas bem cortadas e coloridas, cabelo de corte assimétrico e pele de boneco de cera conquistaram o coração, o bolso e o Spotify de fãs ao redor do mundo. A febre do K-pop, como é conhecido o movimento, começou a alastrar-se pelo planeta em 2012, com o hit Gangnam Style, do rapper Psy. Parecia um universo perfeito. Nos últimos meses, no entanto, a imagem de bons mocinhos ostentada pelas estrelas asiáticas caiu por terra. Vários ídolos estão envolvidos em um roteiro cabeludo que inclui crimes como estupro, consumo de drogas e compartilhamento de imagens pornográficas.
Em março, o cantor Jung Joon-young acabou preso por ter filmado mulheres durante a relação sexual, sem que elas soubessem. Depois, enviou o conteúdo a amigos pelo aplicativo KakaoTalk, equivalente ao WhatsApp. A descoberta do crime aconteceu por acaso, quando Young mandou o celular para o conserto. O artista confessou os malfeitos. “Não vou contestar as acusações apresentadas pela agência de investigação e aceitarei a decisão do tribunal”, disse, em depoimento prestado em março. Hoje, ele busca fechar um acordo com as mais de dez vítimas para tentar reduzir a pena.
O rapaz, que já faturou 262 milhões de dólares com sua gravadora, não está envolvido apenas nessa encrenca. Young integra um grupo de artistas investigados por drogar e estuprar modelos. Depois da farra, eles ainda compartilhavam o conteúdo criminoso entre amigos no KakaoTalk. Chamado de “sex chat” pelos coreanos, o escândalo vem afetando a imagem de outros ídolos do movimento. Entre eles, Seungri, um dos queridinhos das fãs, o guitarrista Lee Jong-hyun, da banda CNBlue (que esteve no Brasil em 2014), e Yong Jun-hyung, do Highlight (este veio ao país em 2011).
Só em 2018, o K-pop faturou 5 bilhões de dólares com shows, séries e outros produtos. A febre se repete no Brasil, que tem uma população de 50 000 descendentes de coreanos. Mas os fãs de K-pop vão muito além da colônia. A banda BTS fez dois shows em São Paulo em maio. Fãs acamparam durante três meses em busca de um bom lugar. Os sete garotos da banda não estão envolvidos em nenhum escândalo.
Tal qual o movimento #MeToo, que liquidou a carreira de atores e diretores de Hollywood devido às denúncias em série de assédio sexual, a força das redes sociais só fez crescer a pressão. Há duas semanas, o diretor-fundador da gravadora YG Entertainment, Yang Hyun-suk, afastou-se com receio de todo o catálogo de artistas de sua empresa sofrer retaliação. Ele é acusado de sonegar imposto, acobertar uso de drogas e promover prostituição. Hanbin, líder da banda iKon, da mesma gravadora, também deixou os palcos após a descoberta de suas tentativas de compra de substâncias ilícitas. “Os coreanos são conservadores, não toleram desvios”, diz Carol Akioka, diretora do portal KoreaIn e especialista em K-pop. Nas engrenagens do rock, rebeldia e excessos fazem parte do show. Já para aqueles que precisam vender a imagem de mocinhos românticos e comportados, o lado B do K-pop representa uma desafinada que pode ser fatal para os negócios.
Publicado em VEJA de 3 de julho de 2019, edição nº 2641
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