Histórias de escritores que assumem outras carreiras devido à falta de oportunidades no meio artístico são comuns — Stephen King trabalhava como zelador de uma escola de ensino médio até despontar com Carrie (1974), seu primeiro romance; Douglas Adams, famoso pela série Guia do Mochileiro das Galáxias, já viveu de bicos como porteiro, guarda-costas e cuidador de galinhas. Há também autores que seguem o caminho inverso: a escrita é um passatempo despretensioso que toma proporções inesperadas e acaba, por acidente, se tornando uma segunda profissão. É o caso das neurocientistas Freida McFadden e Ali Hazelwood, que escreveram best sellers em seu tempo livre.
Formada médica pela Universidade de Harvard, a nova-iorquina Freida McFadden tinha a escrita como hobby desde a adolescência. Em 2013, enquanto trabalhava como terapeuta especializada em lesões cerebrais e cuidava de seus dois filhos pequenos, encontrou tempo para publicar, de forma independente, seu primeiro livro, The Devil Wears Scrubs — “O Diabo Veste Uniforme Hospitalar”, em tradução livre, uma sátira de seu ambiente de trabalho. Quando o título vendeu alguns milhares de exemplares, muito mais do que ela esperava, ela decidiu levar o passatempo a sério. Ao longo da década seguinte, publicou mais de 20 livros, entre romances médicos e suspenses psicológicos — gênero que a alçou para a fama mundial.
Sua obra de maior sucesso, A Empregada — thriller sobre uma governanta com segredos sombrios e chefes terríveis –, figura entre os livros de ficção mais vendidos no Brasil há 23 semanas consecutivas, e já vendeu cerca de 3 milhões de cópias em inglês. A trama rendeu duas sequências, O Segredo da Empregada e The Housemaid Is Watching (ainda inédita no Brasil), e teve seus direitos vendidos para uma adaptação cinematográfica. “Depois que minha carreira literária decolou, tive que dar alguns passos atrás na minha carreira médica, porque era demais administrar as duas profissões”, diz Freida, em entrevista a VEJA. Hoje, ela se dedica majoritariamente à escrita, mas continua atendendo pacientes uma ou duas vezes por semana. “Tento misturar as duas coisas para não ter um burnout“, brinca.
Ali Hazelwood, por sua vez, é PhD em neurociência cognitiva e professora universitária. Nascida na Itália, ela morou na Alemanha e no Japão antes de se mudar para os Estados Unidos para se dedicar à pesquisa. Em sua vasta bibliografia, os artigos científicos dividem espaço com uma série de comédias românticas sobre mulheres no meio acadêmico. No início, ela escrevia apenas por diversão e disponibilizava suas histórias no Archive of Our Own, site gratuito para a leitura de fanfics. A situação mudou em 2020, quando Ali foi descoberta por uma agente literária e publicou seu primeiro livro, A Hipótese do Amor — originalmente uma releitura dos personagens Rey Skywalker e Kylo Ren, de Star Wars, que ganharam novos nomes na trama (Rey se tornou Olive, e Kylo, Adam). Fenômeno no TikTok, a história segue uma aluna de doutorado que, para impressionar a melhor amiga, finge estar namorando um professor jovem e prestigioso.
“Às vezes me inspiro em coisas que aconteceram com meus amigos ou outras pessoas que conheço”, conta a autora a VEJA. Em suas narrativas, Ali também faz questão de mostrar os lados feios do mundo acadêmico, com destaque ao sexismo que ainda prevalece nesses espaços. “Isso fez parte da minha experiência na universidade, e é difícil escrever sobre o cenário sem mencionar esses problemas”.
Além de trajetórias similares, Freida e Ali também têm outro detalhe em comum — ambas utilizam pseudônimos para publicar seus livros de ficção. Dessa forma, conseguem seguir no anonimato no meio acadêmico, separando as duas profissões.
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