Dois anos depois do incêndio que atingiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro, o processo de resgate do acervo – outrora composto por mais de 20 milhões de peças – continua a redescobrir preciosidades históricas entre os escombros. A mais recente é o esqueleto de um dinossauro datado de 80 milhões de anos, cuja espécie ainda segue desconhecida.
Composto por blocos de vértebras articuladas e outros ossos, o fóssil estava soterrado por toneladas de escombros vindas dos andares superiores do prédio – o que, segundo pesquisadores, pode ter protegido a peça do incêndio. Em coletiva nesta terça-feira, 6, organizada para anunciar o lançamento do livreto 500 dias de Resgate: Memória, Coragem e Imagem, integrantes da equipe de resgate disseram que não tinham esperanças de encontrar o “Dinossauro do Mato Grosso”, como apelidado, em boas condições.
“Foi um momento de muita emoção, algo fora do comum”, disse a paleontóloga Luciana Carvalho, uma das coordenadoras do processo de resgate. ”A gente esperava não encontrá-lo, mas, para a nossa surpresa, os blocos foram aparecendo e ossos estavam praticamente intactos.” O fóssil veio de uma expedição no Mato Grosso, entre 2003 e 2006, e já estava sendo estudado antes do incêndio. “Ainda mais agora que ganharam uma segunda vida”, as análises para descobrir o que os ossos representam voltarão em breve. Até o momento, especula-se que se trate de uma nova espécie de titanossaurídio pertencente ao período Cretáceo.
O fóssil integra um grupo de peças resgatadas composto por 5.000 lotes. A lista, felizmente, vai longe: além do Dinossauro do Mato Grosso, estão salvos o crânio de Luzia, esqueleto humano mais antigo descoberto no Brasil, e amuletos do sarcófago da múmia Sha-Amun-em-Su, nunca antes aberto. Também foram resgatados os afrescos de Pompeia, que sobreviveram à erupção do vulcão Vesúvio, parte considerável da Coleção Werner, a mais antiga do Museu, e pterossauros da Coleção de Paleovertebrados.
Itens de 14 das 25 coleções abrigadas no prédio foram encontrados, muito embora outros setores, como de entomologia (insetos) e de memória e arquivo, tenham sido quase que inteiramente dizimados pelo fogo. Eles serão levados para um novo campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, à qual o Museu é subordinado, próximo ao Maracanã, onde ficarão em uma sala de umidade e temperatura controladas.
Ocorrido em 2 de setembro de 2018, o incêndio no Museu Nacional destruiu grande parte do inestimável acervo de peças históricas abrigadas no prédio. “Dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento”, disse o então presidente Michel Temer, à época da tragédia. “O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos os brasileiros.”
Um laudo de investigação apontou que falhas técnicas em um ar-condicionado teriam sido o foco do início do fogo, que se alastrou devido a problemas estruturais do prédio. Segundo o então comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, coronel Roberto Robadey, o Museu não tinha um sistema adequado de proteção contra incêndios.