Michael Douglas, 73 anos, é realeza em Hollywood. Filho do grande Kirk Douglas – ator de clássicos como Spartacus e vivíssimo aos 101 – e da atriz Diana Dill, ganhou um Oscar como produtor (de Um Estranho no Ninho) e um como ator (por Wall Street) e fez outros destaques dos anos 1980, como Atração Fatal, A Joia do Nilo e Instinto Selvagem. Mas foi com o personagem Hank Pym, inventor dos trajes que permitem a uma pessoa aumentar e diminuir de tamanho nos filmes da Marvel, baseados nos quadrinhos Homem-Formiga e a Vespa, que ele conquistou os filhos adolescentes – assim como um amplo público jovem.
O segundo longa da franquia, chamado exatamente Homem-Formiga e a Vespa, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta. Pym, agora reconciliado com a filha, a também cientista Hope Van Dyne (Evangeline Lilly), desenvolveu um traje para ela, que atende pelo codinome Vespa. É a primeira super-heroína a ganhar lugar num título de filme da Marvel. Outras mulheres também têm papel de destaque na trama, incluindo a mãe de Hope, Janet (Michelle Pfeiffer), desaparecida há anos, e Ava (Hannah John-Kamen), conhecida como Ghost, que vai atrapalhar os planos do grupo liderado por Scott (Paul Rudd), o Homem-Formiga.
Em entrevista a VEJA, em Los Angeles, Douglas falou sobre a maior presença de mulheres em papeis de destaque em Hollywood e sobre a acusação de má conduta que sofreu recentemente:
Por que teve interesse em entrar na onda dos filmes de super-herói? Era algo diferente. Nunca tinha feito um filme com tantos efeitos especiais. Sempre fiquei imaginando como era. Os filmes da Marvel são muito bem-feitos, com muito bom gosto. Pensei também no sucesso mundial que eles têm. Não se tratava tanto do personagem, mas do filme. Eles me mandaram muitos quadrinhos para entender um pouco. A agenda também era tranquila, porque sou um ator coadjuvante. Sou famoso para meus filhos agora. Tem uma nova geração que me conhece, que nunca tinha visto meus outros filmes. Então é tudo positivo. E a família Marvel é composta por muita gente bacana e talentosa.
Os filmes da Marvel são muito bem-feitos. Pensei também no sucesso mundial que eles têm. Sou famoso para meus filhos agora. Tem uma nova geração que me conhece, que nunca tinha visto meus outros filmes
Michael Douglas sobre os filmes da série 'Homem-Formiga'
O filme fala muito do relacionamento entre pais e filhas. Como se identifica com isso? Tenho uma filha de 15 anos de idade (Carys Zeta, sua filha com a atriz Catherine Zeta-Jones, com quem também tem Dylan Michael, 17). Ainda estou esperando, porque sempre ouvi falar da coisa da ‘filhinha do papai’. Acho que no momento minha filha e eu estamos mais como Hank e Hope no primeiro filme, um pouco em conflito, estudando um ao outro. Eu entendo o que acontece no filme. E adoro o relacionamento de Hank e Hope em Homem-Formiga e a Vespa. Eles têm um laço bem mais próximo, agora trabalham como um time.
Como foi fazer par com Michelle Pfeiffer? Eles me falaram: desta vez, sua mulher vai ser Michelle Pfeiffer. Achei incrível. Sou fã dela, ela é ótima. E foi tudo o que imaginei que ela seria: esperta, inteligente, engraçada. E ainda aparecemos 30 anos mais jovens! Foi bem bom.
Gostaria de voltar 30 anos? Sim, gostaria. Seria legal, eu teria 43 anos. Com a sabedoria que tenho agora, com certeza gostaria.
Há algum tempo comentou que gostaria de um spin-off voltado para a história do seu personagem. Estou feliz com a maneira como as coisas estão indo, mas talvez os convença a fazer um filme com um jovem Hank Pym.
No primeiro filme, o relacionamento entre os personagens não estava bom, mas agora eles são próximos. Eles têm uma segunda chance. Acha que teve segundas chances em sua vida? Sim. Espero ter aprendido com meus erros. Tenho 73 anos e continuo trabalhando muito. É mais uma terceira chance. Muita gente está aposentada na minha idade. E tenho sorte de ainda estar trabalhando.
O filme está cheio de personagens femininas importantes. Como vê esse apelo por mais mulheres, tendo uma mulher atriz? Como minha mãe era atriz e sou casado com uma, provavelmente tenho mais senso de igualdade que a maior parte das pessoas porque sempre tive mulheres trabalhando na mesma indústria à minha volta. Tendo dito isso, entendo as mudanças do mundo. Acho ótimo. Quando meu personagem mostra para Hope o uniforme, no final do primeiro filme, transformando-a na super-heroína Vespa, que está no título do segundo, foi ótimo. Michelle é excelente, e Hannah também. Uma das coisas boas desses movimentos femininos como Me Too e Time’s Up é o aumento da contratação de mulheres: diretoras, diretoras de fotografia. Em todos os campos, tenho visto as grandes corporações americanas tomando medidas mais agressivas para contratar mulheres.
Acha que ser dirigido por uma mulher é diferente? Fui dirigido por uma mulher (Claudia Weill) num filme no começo dos anos 80, chamado Esta É Minha Chance, com Jill Clayburgh. Adorei! Não são muitos diretores a dizerem para mim: Que delícia! Me lembro de responder, “Obrigado!”. Podia ser considerado assédio hoje em dia, mas me lembro de achar muito bacana. Não acho que exista diferença em ser dirigido por uma mulher. Estou fazendo uma série da Netflix agora (The Kominsky Method) e tivemos diretores e diretoras. A diretora de fotografia é mulher.
Você mencionou algo que hoje poderia ser considerado assédio. Acha que estamos reavaliando como nosso comportamento deve ser? Todo o mundo está pisando em ovos agora, especialmente no local de trabalho. Com o tempo, as coisas devem se ajustar. Porque acho que o local de trabalho é onde boa parte das pessoas encontra seu parceiro. Acho que o movimento Me Too foi importante para chamar atenção para o problema. Mas acho que existe diferença entre comentários inapropriados e abuso sexual. E por um tempo, tudo foi jogado no mesmo balaio. É muito diferente ser acusado de fazer comentários inapropriados e ser abusivo fisicamente. Mas os movimentos feministas são todos positivos. Amo, assim como adoro ver fotos das mulheres sauditas dirigindo carros. É sinal de que as coisas estão caminhando na direção correta.
Todo o mundo está pisando em ovos agora. Com o tempo, as coisas devem se ajustar. O movimento Me Too foi importante para chamar atenção para o problema. Mas acho que existe diferença entre comentários inapropriados e abuso sexual.
Michael Douglas sobre os casos de assédio sexual em Hollywood
Foi por isso que decidiu se antecipar no caso da pessoa que o acusou de assédio sexual (Susan Braudy, que trabalhou na produtora do ator nos anos 1980), dando entrevista? Uma pessoa disse algo. E o que normalmente se espera é que quando alguém vem a público com algo, outras pessoas se apresentem e confirmem o que estão dizendo. Mas ninguém se apresentou quando ela disse aquelas coisas. Porque ela disse mentiras, seja lá por que razão. E então a história morreu. Foi o fim daquilo. Várias mulheres que trabalharam para mim ao longo dos anos se pronunciaram me apoiando, e ninguém corroborou as denúncias, porque nada daquilo jamais aconteceu.