“Meu desejo é estar lá em cima do palco”, afirma Eva Wilma
Aos 87 anos, a atriz diz que a intensa vontade de viver a ajudou a vencer uma pneumonia que a manteve internada por três semanas
A senhora foi internada com pneumonia em plena pandemia. Teve medo de morrer? Vamos combinar que, depois dos 80, a ideia da morte não é algo estranho. Você tem consciência dela, a encara e vive com isso. Eu driblo o tempo com altas doses de otimismo e projetos, muitos projetos. Isso é vital. Sempre pensei: “Vou sair desta cama”.
Cada teste de Covid-19 que fez no hospital a deixava em pânico? Sabia que estava na zona de risco, ainda que todas as medidas preventivas tenham sido tomadas. A cada teste negativo, vinha o alívio. Durante minha adolescência, vi a II Guerra e agora, setenta anos depois, testemunho a pandemia, um inimigo invisível. Felizmente, já recebi a primeira dose da vacina.
De onde extraiu forças para brigar pela vida? Exercito a espiritualidade, especialmente em momentos difíceis. Não é uma questão de religião, mas de fé. Outro ponto essencial é ter objetivos. Queria muito voltar ao convívio da minha família, para minha casa, onde me sinto tão bem, e para o meu ofício. Fundamental mesmo é nunca perder o entusiasmo para seguir em frente.
É duro envelhecer? Quando você passa dos 50, 60 anos, e chega ao que chamo de adolescência da envelhecência, já sabe o que está por vir. Alguns amigos se vão. Aparece um problema de saúde aqui, outro ali, e aí você precisa tentar relaxar, sem nutrir raiva e sempre alimentando a esperança. Reflito muito sobre a necessidade de aprender a conviver melhor com as perdas e as limitações, que são incontornáveis a essa altura. Agora, há, sim, vantagens na minha idade. Sinto que consigo amar mais as pessoas com todas as suas contradições e complexidades.
O que diria à juventude de hoje? Levem a vida com calma e prazer. E ouçam o sábio Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
O trabalho ainda é importante? Minha profissão é um propósito claríssimo de minha existência. Cantar, dançar, representar, isso ainda me desperta paixão, me dá um norte e me enche de vontade de viver.
Como está levando a rotina pós-hospital? Depois de receber alta, continuo com o tratamento em casa, tomando remédios e cuidando da alimentação. Mesmo com a vacina, sigo isolada, por precaução. Às vezes, vem um ou outro parente me visitar. Essa internação, na verdade, veio reforçar minha crença na vida e em mim mesma. Não vejo a hora de as cortinas se abrirem de novo e eu estar lá, em cima do palco.
Publicado em VEJA de 24 de fevereiro de 2021, edição nº 2726