Tem três coisas que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood adora: filme baseado em história real, transformação física (especificamente, uma pessoa bonita ficar feia) e atrizes jovens em ascensão. Margot Robbie combina tudo isso em I, Tonya, de Craig Gillespie, que faz sua estreia mundial no Festival de Toronto. Não que ela realmente seja tão boa a ponto de merecer o Oscar de melhor atriz, mas quem disse que premiação é sempre justa?
A atriz australiana de 27 anos interpreta a patinadora artística Tonya Harding, famosa por ter sido a primeira americana a fazer um salto conhecido como “triple axel” e por se ver envolvida num escândalo em 1994 quando seu ex-marido Jeff Gillooly (Sebastian Stan) contratou dois homens para quebrar a perna de sua rival, Nancy Kerrigan (Caitlin Carver).
O filme mostra a infância difícil de Tonya, criada com violência e pouca demonstração de afeto por sua mãe, LaVona (Allison Janney, candidatíssima ao Oscar de coadjuvante), e abandonada pelo pai. Adolescente, ela faz de tudo para escapar, inclusive casando-se com o também violento Jeff. I, Tonya coloca na tela as versões contraditórias dos eventos e adota um tom cômico perigoso, caindo em truques baratos como fazer Tonya/Margot dirigir-se diretamente à câmera sem necessidade. Muitas vezes, ridiculariza os personagens, simples, ignorantes, da classe trabalhadora, que se encaixariam facilmente na descrição de “cesta de deploráveis” usada por Hillary Clinton para desqualificar os eleitores de Donald Trump, durante a campanha presidencial.
Tonya costuma ser preterida por não ter dinheiro para a roupa mais bonita ou por sua óbvia falta de refinamento num esporte em que isso é tão ou mais importante que a habilidade e o talento. Não à toa, Nancy Kerrigan era preferida do público, dos jurados e da mídia. Curiosamente, Kerrigan está praticamente ausente do longa. I, Tonya vai melhor justamente quando aponta o elitismo do esporte, mas muitas vezes acaba fazendo exatamente aquilo que critica.