Quando o marido de Luisa Mell, Gilberto Zaborowsky, 58 anos, sofreu com uma febre que não baixava, o casal foi ao hospital receber o diagnóstico já esperado: Covid-19. A ativista de 41 anos ficou fechada em casa, enquanto seu companheiro passou dez dias internado com um severo quadro de pneumonia. Neste período, se manteve ativa nas redes sociais: ambiente onde continua defendendo a causa animal — e onde saiu em defesa dos morcegos, tratados como culpados pela pandemia —, e também encara o ataque de seguidores do presidente Jair Bolsonaro.
Em entrevista a VEJA, ela fala como tem sido a luta contra a doença. Confira:
Como está se sentindo? Agora estou bem melhor. Mas é uma doença muito assustadora. Senti tudo que puder imaginar: dor de garganta, no peito, uma terrível dor nas costas, que me fazia chorar, e falta de ar como nunca imaginei que alguém poderia sentir. Não tive febre, mas meu marido teve muita. Por isso fomos ao hospital e acabamos diagnosticados. Ele ficou dez dias internado. Essa é outra terrível ação do coronavírus: ele de repente corta pessoas do seu convívio. Não podia visitá-lo nem vê-lo.
Sabe como pegaram a doença? Não. Eu tenho um palpite de que tenha sido na academia, pois já estávamos circulando menos com o avanço da doença. Agora, não dá mais para saber de onde ela vem.
Qual foi o maior desafio nesse período? Creio que manter a estabilidade emocional. Além de ficar afastada das pessoas que eu amo, minha mãe que não podia me visitar, meu marido no hospital, e meu filho que não entendia porque eu não queria abraçá-lo. Fiquei confinada num quarto vendo TV e internet o tempo todo. E via um monte de gente no mundo morrendo da doença que eu também tenho. Para piorar, via empresários e o próprio presidente minimizando a doença e a dor das pessoas. A insensibilidade do presidente dói. Só Bolsonaro, aliás, já acaba com minha saúde mental, cada hora ele fala algo.
Há tempos tem sido atacada pelos seguidores do presidente. Como reage a isso? Eu não ligo. Vejo esses homens falando coisas como “vão morrer 2 ou 7 mil pessoas”, como se eles mesmos fossem jovens imortais. Quando meu marido estava internado, o hospital recebia o tempo todo pessoas com coronavírus. Isso com o isolamento. Se não tivesse essa ação, não teria leito para todo mundo. Eu até elogiei nas redes o governador João Doria, uma pessoa com quem já tive muitas diferenças no passado, mas agora reconheço que está fazendo um bom trabalho. Recebi acusações nas redes de que estava em quarentena feliz, pois tenho dinheiro. Quem fica feliz sem conseguir respirar e com o marido internado? Não quero que ninguém passe pelo que eu passei, especialmente num sistema de saúde caótico.
Como ficou seu trabalho com animais nesse período? Estamos parados. Temos 350 animais, com alguns funcionários cuidando deles nesse período. Mas o instituto está fechado e temos tomado todo cuidado para não colocar ninguém em risco. Não estamos atendendo pedidos para retirada de animais abandonados. E ainda temos 50 filhotes para adoção, parados. Vamos pensar agora num sistema de adoção delivery, em que possamos encontrar lares para esses bichinhos neste período e entregá-los com segurança. Fora do Brasil, a adoção de animais aumentou na quarentena.
Foram noticiados casos de pessoas atacando morcegos, por medo do coronavírus. Como responde a essa reação exagerada? É um absurdo. Todos os males que temos vivido no mundo vêm da exploração do planeta, da fauna e da flora. Essa pandemia não é culpa do morcego, mas do uso de animais silvestres em locais onde eles não deveriam estar. Esquecem que as gripes aviária e suína vieram da aglomeração de animais confinados. É uma ameaça gigante para a humanidade. Já me chamaram de tudo na vida, de burra, de louca dos bichos, mas são os que negam a ciência que estão acabando com o planeta. Salvo animais para ajudar um pouco a salvar o planeta.