A ocasião é de celebração: depois de um longo hiato, Bruce Springsteen e a E Street Band se reúnem para um novo álbum. Mas tudo em Letter to You (Estados Unidos, 2020), o filme (já disponível na Apple TV+) que mostra os cinco dias de gravação do disco homônimo, sugere sobriedade e até certa tristeza. A neve que cerca o estúdio de som, a fotografia em preto e branco, o contraste entre as cenas de arquivo que mostram os músicos na juventude e as imagens deles hoje, já passados dos 70 anos — se as canções pudessem deixar alguma dúvida, o filme do diretor Thom Zimny as dissiparia: é do passado, dos amigos que não chegaram ao presente e do futuro sempre mais abreviado que Springsteen fala nas gravações das doze faixas. Em narrações breves, o cantor-compositor contextualiza cada uma delas; segue-se então o registro do trabalho de estúdio, com a banda inteira tocando junta — um modo hoje tão raro de fazer um disco quanto a própria poesia íntima e sentida de Bruce Springsteen.
Publicado em VEJA de 28 de outubro de 2020, edição nº 2710