Em 2011, Lady Gaga já tinha deixado claro que não estava a passeio pela indústria da música. Três anos após seu álbum de estreia, The Fame, que tomou as pistas de dança e estabeleceu a cantora como a beldade excêntrica do momento, Gaga lançou seu segundo e mais comentado disco: Born This Way. Para além do pop contagiante já típico da artista, o disco se tornou um símbolo de aceitação por sua faixa-título, abraçada com unhas e dentes pela comunidade LGBTQIA+.
Proclamando “eu nasci assim” na letra, um hino em prol da autoestima e tolerância, Gaga ressalta em determinado ponto: “Não importa se sou gay, hétero ou bi / Lésbica, transexual / Estou no caminho certo, querido / Eu nasci para sobreviver”. A frase que hoje, em um cenário pop diverso, com representantes como a brasileira Pabllo Vittar, parece simples, ou até clichê, era, neste passado não tão distante, uma ousadia. Logo, Born This Way fez história entre jovens gays da época — agora adultos orgulhosos e livres para ser exatamente como são. Para celebrar esse marco, nesta sexta-feira, Gaga lança Born This Way The Tenth Anniversary, disco comemorativo de dez anos do álbum, com músicas como Marry The Night e The Edge of Glory que ganharam versões reimaginadas por artistas que defendem a causa, como Kylie Minogue e a banda Years & Years.
Fato é que Lady Gaga representa para a nova geração da bandeira de arco-íris o que a pioneira Madonna foi para os jovens gays das décadas de 1980 e 90. Símbolo da liberdade sexual, Madonna se posicionou como uma figura ativa na pauta da aceitação quando a homoafetividade era, literalmente, considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — absurdo que só foi tirado da lista de “comorbidades” em 17 de maio de 1990. Com músicas como Justify My Love e o álbum Erotica (1992), Madonna ressaltava: ser gay é normal.
Em 2012, a veterana do pop foi multada na Rússia por um show no qual fez “apologia a homossexualidade”. A dívida de 1 milhão de dólares continua em aberto: “nunca vou pagar”, disse a cantora. No mesmo ano, Gaga defendeu os gays em um show em São Petersburgo infringindo a lei contra a “propaganda gay” do país. Dessa vez, a produtora responsável pela apresentação é que foi multada pelas autoridades russas.
Outro marco na carreira de Madonna foi sua luta contra a sorofobia (preconceito com pessoas que convivem com o vírus do HIV). Nos anos 80, a Aids ceifou muitas vidas e era estigmatizada como uma “peste gay”. A cantora, inclusive, chegou a perder amigos e pessoas próximas para a doença. Em seu álbum Like a Prayer, ela destinou uma página inteira do encarte para conscientizar os fãs sobre o vírus.
Nessa trilha de ativismo, Gaga faz sua parte. Abertamente bissexual, a cantora criou, ao lado de sua mãe, Cynthia Germanotta, em 2012, a Born This Way Foundation, uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo “apoiar a saúde mental dos jovens e criar um mundo mais amável e corajoso”. Que assim seja.