Qual foi o intuito de expor a intimidade de sua casa no Família Bacchi — O Reality? Queria me aproximar dos milhões de seguidores que nos acompanham nas redes sociais. Transmitir uma mensagem profunda, que tocasse o coração das pessoas. Mostrar que não somos a família margarina, que somos humanos e passamos dificuldades e perrengues. Somos gente como a gente.
Gente como a gente tem boletos para pagar. Você tem? Até demais. E pago um monte atrasado porque perco a data de vencimento. Sou dona de casa, faço supermercado, troco móveis. Administrar uma família não é fácil. Somos eu e o Amaury, meu marido. Damos banho no Enrico, trocamos a fralda dele, não temos 500 empregados para isso. Só uma, que limpa a casa e faz a comida. É corrido e difícil, pois ainda preciso parar e postar no Instagram.
Foram quatro tentativas de fertilização in vitro em 2019. Como foi ser acompanhada por câmeras nesse processo? Quando engravidei do Enrico, usei óvulos congelados. Dessa vez, eu sabia dos riscos, por ter uma idade avançada: meus óvulos não são os mesmos de quando eu tinha 34 anos. Mesmo assim, estávamos esperançosos e com alta expectativa, por haver tantas pessoas acompanhando o processo. Mas não deu certo. O emocional fica abalado, sem contar o financeiro: foram mais de 100 000 reais gastos em medicamentos, coleta de óvulos, biópsias e embriões.
Vão continuar tentando? Sim, descobrimos oportunidades com novos exames. Não descartamos, lá na frente, a adoção. Quero aumentar a família. Mas confesso que gostei da experiência de estar grávida. Nasci para ser mãe. Queria outros dez, mas não dá tempo.
Seu filho, Enrico, nasceu de produção independente, e você foi criticada por escolher um doador loiro de olhos azuis. Como responde a isso? Ele é meu filho e queria que se parecesse comigo, já que o pai não estaria presente. Sei todas as características do doador: histórico de saúde, hobbies, família, até religião. Não foi simplesmente pedir um loirinho de olhos azuis.
Se optar pela adoção, também escolherá uma criança parecida com você? Sim. Não preciso ter um filho de outra cor de pele, de mãos dadas comigo, para levantar uma bandeira. Tenho há mais de vinte anos uma ONG em Paraisópolis, onde convivemos com várias etnias. Se eu fosse racista, como dizem na internet, não faria um trabalho assim com minha família envolvida.
Publicado em VEJA de 15 de janeiro de 2020, edição nº 2669