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Juliana Paiva: ‘Marocas vai se revelar um tanto feminista’

Atriz fala sobre o sucesso da mocinha de 'O Tempo Não Para' e do humor crítico e afiado da novela das 7

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 set 2018, 18h54 - Publicado em 13 set 2018, 09h30
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  • Desde o início de O Tempo Não Para, Marocas (Juliana Paiva) mostrou que não era uma mocinha típica do século XIX. Sim, ela usava longos vestidos com espartilho, mas também se recusou, nos primeiros capítulos, a se casar com um rapaz de quem não gostava, contrariando a vontade da família. A protagonista da novela das 7 da Globo embarcou num navio que se chocou com um iceberg, congelou e descongelou mais de cem anos depois, acordando em uma realidade completamente diferente daquela que ela conhecia – agora, mulheres trabalham, votam e escolhem com quem se casar. E Marocas, por sua vez, se apaixonou logo de cara por um típico exemplar masculino do século XXI. “Ela vai entender o papel da mulher no novo século e vai se revelar um tanto feminista”, diz Juliana Paiva a VEJA. “Marocas vai lutar pelos direitos em que sempre acreditou e que agora tem mais propriedade para falar.”

    No capítulo de terça-feira, a protagonista do folhetim já deu mostras do que vem por aí. Nova funcionária da empresa do noivo Samuca (Nicolas Prattes), Marocas levou uma bronca do pai, Dom Sabino (Edson Celulari), que não se conformava com o fato da filha, uma mulher, ter um emprego. A mocinha sacou o discurso mais empoderado e alinhado com os novos tempos possível e disse com todas as letras que vai trabalhar “como a dona Carmen, como qualquer mulher dessa época”. Ele, no fim, assentiu.

    A protagonista moderna e carismática é apenas um dos elementos que fazem a novela de Mario Teixeira dar certo. Comédia eficiente que, sem perder o bom humor, consegue fazer comentários sobre os tempos atuais, a trama tem rendido à Globo a melhor audiência média de um folhetim das 7 desde 2012. Em São Paulo, são 28 pontos desde a estreia até o último dia 1º.

    Confira a entrevista com Juliana Paiva:

     

    A novela tem a maior audiência da faixa das 7 em seis anos. O que faz dela um sucesso? Acho que o público entendeu que não é apenas uma comédia. É, sim, uma comédia das 7, uma novela leve e gostosa, mas a gente também está levando muitas mensagens importantes para fazer refletir. Os “congelados” vêm apontar coisas que a gente às vezes deixa passar, que com a correria do dia a dia esquece de parar para questionar e só vai aceitando. Os questionamentos dos “congelados” são bem interessantes. Eles falam sobre valores, amor, respeito. E fora isso é uma aula de história dada de forma superleve e sutil.

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    Como construiu a Marocas? Ela não é uma típica mocinha do século XIX, então me baseei nas moças da época, sim, através de livros e filmes, mas a Marocas é muito única. Fui dentro do texto do Mario e do que fomos construindo nas preparações. Ela é uma “menina mulher” do século XIX que foi criada com tudo do bom e do melhor, com todas as possibilidades, com uma preceptora que ensinava diversas línguas e lia diversos autores. Mas, ao mesmo tempo, ela tem um lado “menino” muito interessante, pois foi criada para ser o filho varão que Dom Sabino estava sonhando e não chegou. Mesclo o lado “menina mulher” com esse lado “menino” da criação do pai, com a ingenuidade do século XIX e um elemento de diversão, porque é uma personagem supersolar com interesse de descobrir o novo mundo.

    “A Marocas é uma pessoa à frente do tempo dela. Numa época em que a escravidão era o que fazia a roda da economia girar, ela era abolicionista . Numa época em que a mulher não tinha voz, o pai escutava os pensamentos dela. Ela não casou porque não amava o rapaz”

    Juliana Paiva sobre sua personagem Marocas, na novela 'O Tempo Não Para'

    Acha que a Marocas é uma pessoa “à frente de seu tempo”, que tem se adaptado bem com o século XXI? A Marocas é uma pessoa à frente do tempo dela por causa dos valores que ela já tinha naquele século. Numa época em que a escravidão era o que fazia a roda da economia girar, ela era abolicionista e defendia isso sem o menor pudor. Numa época em que a mulher não tinha voz, o pai escutava os pensamentos dela. Ela não casou porque não amava o rapaz e o pai entendeu, por exemplo. A família dela também é muito especial para aquela época. Agora, ela vai entender o papel da mulher no novo século e vai se revelar um tanto feminista. Hoje em dia a mulher continua cuidando da casa, sendo mãe, mas também vai à luta, vai para o mercado de trabalho. Marocas vai lutar pelos direitos em que sempre acreditou e que agora tem mais propriedade para falar. A Marocas é à frente do tempo dela, o século XIX, mas não é à frente no século XXI. Ela vai aprendendo como é o século XXI, com todo o coração pulsante que ela já carregava. Tem coisas que a deixam indignada e ela diz: “Mudou tanta coisa. Chegou a tecnologia, chegou a ‘tela animada’, a máquina do café expresso e o homem ainda desrespeita a mulher dessa forma e ainda existe trabalho escravo”. Ela vem questionar.

    Qual a coisa mais difícil para Marocas entender ou aceitar nessa nova realidade? Ela vai ter que reaprender a sentir, se apaixona por um rapaz do século XXI e a maneira que ele tem de conquistar não é a maneira que um cavalheiro cortejaria uma dama da época dela. Ele vai ter que ir se moldando aos novos tempos.

    Acredita que as pessoas no século XIX eram mais respeitosas ou éticas do que somos hoje? A educação era um pouco mais formal, o que às vezes poderia tirar a naturalidade. Mas o valor da palavra “honra” era muito importante. Dar seu nome, dar sua palavra já fazia valer. No século XIX isso era mais presente. Mas só pelo fato de existir escravidão naquela época era complicado. Dizer que era uma época mais justa e mais ética não era, já que você estava tratando um semelhante da forma que tratavam. Então acho que tem coisas boas e ruins nos dois séculos.

    Naquela época, as pessoas ficavam pensando no futuro e imaginando como seria quando acontecesse a abolição, quando acontecesse a república, que iria colocar fim nos privilégios, mas infelizmente a gente vê que não é bem assim na prática.

    Juliana Paiva, a Marocas da novela 'O Tempo Não Para'

    O que ficou pior e o que melhorou? Melhorou a liberdade de expressão. Hoje tem mulheres falando sobre política, fazendo suas próprias escolhas, coisas que não eram admitidas naquela época. Mas, ao mesmo tempo, tem muita coisa ainda para evoluir. O que piorou foi a violência, a facilidade com que as pessoas mentem e querem se dar bem. Não que isso não existisse naquela época, mas acho que hoje é mais descarado ou a gente está mais acostumado. Naquela época, as pessoas ficavam pensando no futuro e imaginando como seria quando acontecesse a abolição, quando acontecesse a república, que iria colocar fim nos privilégios, mas infelizmente a gente vê que não é bem assim na prática.

    Se você fosse congelada agora e acordasse daqui mais de cem anos, qual seria sua reação? Com certeza seria um baque, um susto. Você perder suas referências, perder pessoas que conhecia, saber que não existem mais… Não consigo me imaginar, mas com certeza seria um susto gigantesco e uma grande surpresa.

    O que esperaria ver, em termos tecnológicos e em temas sociais? Eu acho que teletransporte seria algo muito interessante e que eu gostaria de ver no futuro. Imagina quanto tempo de trânsito iria poupar, por exemplo, e como a gente poderia aproveitar melhor o dia. Em temas sociais, acho que a desigualdade social, o racismo e o machismo ainda presentes são coisas que temos que evoluir muito. Não que já não tenha dado passos importantes, demos sim, mas acho que a gente tem que se respeitar muito mais. Quando o ser humano une suas forças para o bem, a gente vai muito mais longe.

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