James Wan: do terror indie de ‘Jogos Mortais’ a grife de Hollywood
Diretor, que retorna às origens horripilantes com 'Maligno', foi um dos responsáveis por transformar filmes de terror de baixo orçamento em minas de ouro
Dois estranhos acordam acorrentados pelos pés em um banheiro decrépito com uma terceira pessoa sem os miolos no meio do local. Para saírem de lá com vida, eles precisam descobrir rapidamente o que os conecta e desvendar algumas pistas macabras. A sinopse simples do primeiro longa da franquia Jogos Mortais foi responsável por levar o nome de James Wan ao estrelato em Hollywood. O diretor de sucesso retorna, após cinco anos, para as produções horripilantes com a estreia de Maligno, filme que chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 9.
Dono de uma perspectiva certeira no que diz respeito a causar medo e tensão, Wan foi um dos responsáveis pela produtiva safra de produções do gênero que, nos anos 2000, fizeram bilheterias astronômicas com baixíssimos orçamentos. O primeiro sucesso dessa leva, na verdade, veio um ano antes, o clássico A Bruxa de Blair, lançado em 1999 e dirigido por Eduardo Sánchez e Daniel Myrick. Mas foi nas mãos do diretor de origem asiática que os cinemas testemunharam a explosão dessa onda a partir de Jogos Mortais, de 2004. Com um orçamento modesto de 1,2 milhão de dólares, o filme arrecadou 103,9 milhões ao redor do mundo, de acordo com o site Box Office Mojo. O sucesso foi tão grande que o longa se tornou uma das maiores franquias de terror dos últimos tempos e continua rendendo sequências até hoje.
Apesar de consagrado como criador de grandes franquias do horror no cinema, o diretor ainda preza pela simplicidade que o fez famoso. “Quando eu e Leigh Whannell fomos fazer Sobrenatural, queríamos aquela liberdade caseira e qualidade que tivemos em Jogos Mortais. Existe algo muito legal sobre esse espírito indie que tento manter até agora com os filmes maiores em que estou trabalhando”, disse em entrevista ao site Collider. Nascido na Malásia, James Wan se mudou cedo do continente asiático para a Austrália, aos 7 anos de idade. O jovem aspirante a diretor estudou artes na Royal Melbourne Institute of Technology e foi lá que conheceu Whannell. A amizade gerou uma parceria de longa data que foi além de Jogos Mortais e resultou na criação da série de filmes Sobrenatural.
Nos moldes do Universo Cinematográfico da Marvel, o diretor iniciou o seu próprio, apelidado pelos fãs de Invoca Verso. Inspirado em histórias reais, o primeiro filme de Inovação do Mal acompanha o casal de demonologistas Ed e Lorraine Warren em sua senda de ajudar uma família que é atormentada por espíritos malignos. Novamente com um orçamento relativamente baixo se comparado aos blockbusters, o longa trouxe grande retorno financeiro — o que resultou em duas continuações e diversos spin-offs, como a franquia própria da boneca endiabrada Annabelle. De acordo com a Forbes, até 2020, o Universo de Invocação do Mal ocupava a terceira posição das franquias de terror mais lucrativas do cinema, abocanhando, com 7 filmes, 2,1 bilhões de dólares.
A versatilidade de James Wan foi atestada quando ele foi convidado a comandar duas produções de peso em Hollywood. Em 2015, dirigiu o sétimo capítulo da saga de carros explosivos de Vin Diesel, Velozes e Furiosos 7, e em 2018 adentrou o mundo dos super-heróis ao comandar Aquaman. A parceria com a DC Comics parece ter dado certo: ele está confirmado como o diretor da sequência, prevista para 2022.
“Bem, eu digo que você pode tirar o menino do horror, mas não pode tirar o horror do menino. Em primeiro lugar, é o meu primeiro amor e sempre estará em mim”, disse em entrevista ao site Bloody Disgusting. Entre as produções de caráter mais independente e aquelas com grande nome no mercado, James Wan é hoje, aos 44 anos, um nome inescapável em Hollywood. É possível afirmar isso sem sustos.