Instruções. É isso que a artista plástica Yoko Ono enviou para a mostra que a homenageia no Instituto Tomie Ohtake, em cartaz a partir deste sábado, 1º de abril. Todas as obras que criam uma retrospectiva da carreira da artista experimental na exposição Yoko Ono: O Céu Ainda é Azul, Você Sabe convidam o espectador a fazer parte do processo criativo, e desempenhar um papel ativo na construção de cada peça.
Ao caminhar pela exposição, o espectador encontra painéis com instruções de como interagir com cada uma das peças. Uma pede que o visitante empilhe pedras relativas às tristezas pelas quais passou na vida, e em outro monte coloque as alegrias, assim a obra vai se construindo ao longo do período em que fica em cartaz. Em outra, o público se depara com dezenas de cacos de porcelana e pode remontar os objetos como desejar. Já Pintura para Apertar as Mãos (Pintura para Covardes) (1961), em que um painel diz “fure uma tela, coloque a sua mão através do buraco, aperte as mãos e converse usando as mãos”, estimula os presentes a tentar conhecer alguém novo através de uma tela pendurada no meio do salão.
Há ainda aquelas instruções que convidam o visitante a continuar “o trabalho” fora da mostra, como Peça para Limpar III (1996), que traz apenas a instrução “tente não dizer nada negativo sobre ninguém, por três dias, por 45 dias, por três meses”, ou Peça do Sol (1962), “observe o Sol até ele ficar quadrado.”
A artista fez questão que todos os textos estivessem escritos apenas em português, e pediu que a equipe de curadoria procurasse elementos nacionais para adaptar as obras, como Árvore dos Pedidos para o mundo (2016), “faça um pedido e peça à arvore que envie seus pedidos a todas as árvores do mundo”, uma árvore em que os visitantes podem amarrar seus desejos, que no Tomie Ohtake é uma brasileiríssima jabuticabeira.
Com obras que nunca serão as mesmas dependendo de onde são exibidas, e mudam ao longo do tempo com a participação ativa do público, Yoko Ono questiona o conceito e os limites do objeto de arte. Segundo o curador Gunnar B. Kvaran, “os trabalhos fazem uma retrospectiva de toda a carreira da artista, e as instruções norteiam o trabalho experimental de Yoko Ono, uma das primeiras a explorar esse tipo de interação na arte contemporânea. A mostra também questiona a ideia por trás de uma obra, dessacraliza o objeto de arte, já que ele sempre muda, mesmo de um dia para o outro, e não pode ser efetivamente guardado em um lugar.”
Em visita que VEJA fez à exposição antes de sua abertura, o curador ainda destacou duas obras de Yoko Ono com forte temática feminina. A primeira é Emergir (2013/2017), “faça um depoimento de alguma violência que tenha sentido como mulher”. A organização pediu ao público que enviasse histórias, que foram impressas e agora estão penduradas na exposição. Aquelas que desejarem enviar novos relatos podem continuar fazendo após visitar o espaço, o que multiplica e catalisa o poder da obra. Já em Mamãe É Linda (1997), os visitantes são convidados a escrever relatos sobre a própria mãe e colarem em post-its nas paredes do instituto.
Não há previsão para uma visita pessoal de Yoko Ono à exposição em São Paulo. Com 84 anos, a artista vem diminuindo suas viagens internacionais, mas isso não significa que os visitantes não possam ter um contato direto com ela. A Peça Telefone (1966), “Quando o telefone tocar saiba que sou eu”, traz um simples aparelho de telefone colocado em cima de uma mesa, mas a única pessoa que tem o número daquela linha é a própria Yoko Ono, que pode ligar a qualquer momento e conversar com um transeunte.
A exposição Yoko Ono: O Céu Ainda É Azul, Você Sabe fica em cartaz no instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, de 1º de abril a 28 de maio. A visitação pode ser feita de terça-feira a domingo, das 11 às 20 horas. Os ingressos custam 12 reais (inteira) e 6 reais (meia); às terças terças-feiras, a entrada é gratuita (mediante retirada de senhas na bilheteria do Instituto Tomie Ohtake).