Ainda bastante lembrado por sua interpretação como Superman, o ator inglês Henry Cavill tem buscado nos últimos anos se distanciar do famoso super-herói, interpretando papéis que em nada lembram o Homem de Aço. Recentemente, ele deu vida ao agente secreto August Walker, em Missão Impossível: Efeito Fallout e, na série The Witcher, ao bruxo Geralt de Rivia. Agora, Cavill assume o figurino de um dos personagens mais populares da literatura britânica, o detetive Sherlock Holmes, no filme Enola Holmes, que estreou nesta quarta-feira, 23, na Netflix.
Ao contrário de boa parte das adaptações, que colocam o detetive criado pelo autor Sir Arthur Conan Doyle no centro da trama, o filme faz dele coadjuvante da trama da irmã mais nova, Enola (interpretada por Millie Bobby Brown). Abandonada pela mãe aos 16 anos de um modo misterioso, a jovem precisa primeiro lidar com os irmãos distantes, Sherlock e Mycroft (Sam Claflin), e depois descobrir o paradeiro da matriarca. Em entrevista a VEJA, o ator fala sobre o filme, a carreira e sua paixão por artes marciais.
Qual sua relação com a obra de Sir Arthur Conan Doyle? Na verdade, eu não era muito familiarizado com a literatura de Arthur Conan Doyle. Obviamente que conheço as histórias de Sherlock Holmes que já foram apresentadas na TV e no cinema, mais recentemente com Benedict Cumberbatch e Robert Downey Jr. Mas, essa foi a minha primeira experiência no que diz respeito à leitura do personagem, com o roteiro de Jack Thorne, que eu gostei muito. E isso foi, primeiramente, o que me atraiu neste projeto. A segunda e a terceira razão, não nesta ordem, foram Millie Bobby Brown e o diretor Harry Bradbury. Três pessoas extraordinariamente talentosas. Então, eu agarrei a oportunidade assim que li o roteiro.
Então, algum ator na TV ou no cinema te inspirou na hora de compor o seu Sherlock Holmes? Diversos atores já interpretaram muito bem este papel. Mas, para mim, o interessante mesmo foi trabalhar com Harry Bradbury e Millie diretamente, porque eu sabia que eles iriam fazer jus a história de Enola Holmes. E o foco é a história de Enola. Eu sou só um personagem coadjuvante. Eu ajudo a Enola. Mas, eu curti e me diverti bastante.
Sherlock Holmes ganhou uma versão feminina na série Miss Sherlock, na HBO. Agora, o personagem ganhou uma irmã, talvez mais inteligente e perspicaz do que ele. Como vê a representação feminina ganhando força entre históricos personagens masculinos? Acho interessante ver a Millie Bobby Brown, que é extraordinária, liderar esse filme que apresenta uma mudança histórica na perspectiva sobre a família Holmes. Este filme representa uma nova geração. Para mim, é apenas um privilégio fazer parte dessa história. A mensagem que ela passa por todo o filme é incrivelmente importante. Não apenas para a indústria cinematográfica, como também para toda a sociedade.
O Sherlock que aparece em Enola Holmes foi criticado por ser “sentimental demais” e “racional de menos”. Você concorda com essa crítica? Bem, em toda a história tradicional de Sherlock falta um grande elemento que temos nesta nova história, que é a própria Enola Holmes. E Sherlock, de fato, continua um detetive incrivelmente genial e distante da sociedade e das outras pessoas. Mas é Enola quem traz à tona esse lado incrivelmente emocional dele. É apenas ela. Ele não trata ninguém da mesma forma que trata Enola. Essa é uma conexão que ele tem com ela. Essa é a diferença. Ele continua a mesma pessoa que tradicionalmente conhecemos, porém, em uma versão um pouco mais leve, certamente um pouco menos agressivo.
Enola luta artes marciais no filme. Recentemente você disse que pratica jiu-jitsu porque é uma luta que te faz pensar, como o xadrez (o jogo de tabuleiro favorito de Sherlock). Consegue imaginar o detetive nos tatames? É claro! Eu acho que Sherlock iria gostar muito de praticar jiu-jitsu. Realmente, jiu-jitsu é como xadrez. Sherlock é um mestre do xadrez. Então, basta você aplicar um pouco de exercícios físicos a isso e ele realmente seria um bom lutador. Eu sou um grande fã do jiu-jitsu brasileiro. Eu treino com Roger Grace. Eu acho que, quando você tem uma atriz da nova geração apresentando um esporte incrível como esse, para mim, é fantástico. Então, acho excelente que o filme traga esse incentivo. De repente, meninos e meninas vão se interessar pela luta.
Como foi a sua preparação para interpretar Sherlock Holmes? A preparação veio principalmente de longas conversas com Harry Bradbury e com Jack Thorne, e, claro, com Millie. Conversamos bastante sobre minha vida pessoal, minhas experiências e relacionamentos com a minha família. Uma vez que encontramos algumas características que poderíamos aplicar a Sherlock, manipulamos para incluí-las no personagem. Certos aspectos da minha personalidade e do meu caráter foram as chaves para acessar o Sherlock.
Você ficou mundialmente conhecido após interpretar o Superman. Outros personagens vieram depois do super-herói. Mas, naquela época, ficou preocupado em ser lembrado pelo resto da vida só como o Superman? Não. Eu tinha fé em mim mesmo que poderia interpretar outros personagens. E, sim, ser lembrado por um personagem é algo que faz parte do ofício de um ator. Acho que tudo se resume a receber o papel correto e trabalhar com as pessoas certas. Sem um diretor, editor ou produtor correto, um ator pode nunca ver as qualidades de sua atuação. É um trabalho em equipe e é muito importante que cada engrenagem dessa máquina funcione corretamente ou tudo desmorona. Então, ser lembrando pelo Superman e conseguir outros papéis depois disso foi tudo devido à sorte de eu ter trabalhado com ótimas pessoas.
Recentemente, um vídeo seu montando um supercomputador gamer viralizou. Ele está funcionando direitinho? Eu fiquei bem feliz com aquilo. E eu vou fazer um upgrade nele em breve. Então, sim, até agora, tudo bem! Tem sido uma boa distração. Os finais de semana, quando não estou com meu cachorro ou fazendo qualquer outra coisa, eu relaxo e faço uma descompressão do trabalho da semana.
Por falar em cachorro, você batizou o seu de Kal, que é o nome kryptoniano do Superman. Pensa em adotar outro animal? Por enquanto não, talvez no futuro. Eu percebi que a raça akita americano é de um cachorro que se dá bem sozinho. Quer dizer, seria possível eu ter outro cachorro, mas, agora, acho que estamos bem. E se eu tivesse outro cachorro, o nome dele teria que significar algo bem importante para mim, como significou Kal.
Uma pergunta rápida sobre The Witcher, que também é uma série da Netflix. O que pode adiantar sobre a segunda temporada? Infelizmente não posso falar nada sobre The Witcher agora. Teremos o momento e local correto para isso, mesmo que seja uma série da Netflix. Hoje vou falar só sobre Enola.