Qual o papel do ministro da Educação de Vargas, Gustavo Capanema, na vida de Drummond e de outros autores? O entorno do Capanema era um território protegido no regime. Vargas e ele acolheram intelectuais de todos os matizes ideológicos, de integralistas a comunistas. Com isso, o Estado Novo se fez presente em domínios em que não era forte. Era uma via de mão dupla, governo e artistas se beneficiavam.
Por que o senhor propõe um novo modo de ler as obras de Drummond durante o Estado Novo? Não dá para ler esses livros como se fossem só versos. É poesia produzida por um prócer do regime na área cultural. O recado político é inteligível à luz da prática política do autor, não só a partir de seus versos.
O jornalista Ruy Castro e outros dizem que a Semana de 22 “arrombou uma porta aberta”. O senhor concorda? Eu entendo o subtexto do Ruy Castro, que é dizer que havia um modernismo no Rio antes de 22. Sim, havia. Mas em São Paulo é um movimento cultural organizado, com mecenato, grande número de registros culturais e uma leitura original das vanguardas europeias. Isso não havia em nenhum lugar do Brasil.
Como o senhor vê a política cultural do governo federal? Quais artistas estão colaborando com o governo? Mario Frias é artista? Tem um ou outro sertanejo, mas a maioria não está ligada ao governo, quer distância. Não há política cultural, só um desmonte grosseiro e ignorante.
Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2022, edição nº 2773