(Atenção: este texto contém spoilers do segundo episódio da oitava temporada de Game of Thrones)
A vida anda muito fácil para os fãs de Game of Thrones. No episódio que foi ao ar no último domingo 21 – o segundo da oitava e última temporada, que terá apenas seis – nenhum personagem foi morto ou sequer ferido (coisa rara para a série), e até mesmo confrontos gestados há muito tempo se resolveram sem grande alarde. Uma pena.
O episódio anterior havia terminado com uma troca de olhares sugestiva entre Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) e Bran Stark (Isaac Hempstead Wright), lembrando ao público que tudo começou quando um empurrou o outro de uma janela ali mesmo em Winterfell. Bran, porém, já não é mais o mesmo e, ao invés de raiva, mostrou ao homem que tirou a mobilidade de suas pernas algo próximo de gratidão, inclusive se recusando a denunciá-lo diante da própria família. “Precisaremos de você na guerra”, disse o Corvo de Três Olhos, com a habitual falta de emoção.
Mas não foi só o perdão de Bran que fez de Jaime o personagem mais magicamente poupado da série até agora: inimigo histórico tanto da família Stark (por atacar Ned na primeira temporada e contribuir para sua execução) quanto dos Targaryens (por ter matado o “rei louco”), o Lannister foi perdoado em questão de minutos, num julgamento que contou apenas com o testemunho rápido de Brienne de Tarth (Gwendoline Christie) – alguém capaz de converter a opinião de Sansa (Sophie Turner), certamente, mas jamais de Daenerys (Emilia Clarke).
Não surpreende que a mãe dos dragões venha perdendo popularidade desde que a série começou a se afastar dos livros, na quinta temporada. Falta-lhe coerência. Antes violenta e impulsiva, defensora da libertação dos escravos e da destruição da “roda de poder” que oprime o povo, Daenerys agora mal se lembra do conceito de classes e repete episódio sim, episódio também, que seu objetivo supremo é sentar no trono que pertenceu a seu pai. E, apesar disso, hesita quando tem a oportunidade de vingá-lo.
Foi esse objetivo que ela revelou a Sansa quando as duas, numa cena que careceu desesperadamente de sutileza, sentaram para conversar sobre Jon Snow (Kit Harington), a guerra e o trono. “E depois?”, perguntou a mais sábia dos Starks, temendo pela autonomia do seu povo. “Depois eu assumo o trono, é claro”, respondeu a Targaryen, sem entender nada. Inverteu-se a gangorra: a garota tola da primeira temporada aprendeu sua lição, enquanto a poderosa Khaleesi esqueceu a sua.
Com 58 minutos de duração, o capítulo manteve o tom do anterior e deixou toda a ação e polêmica para o futuro (o terceiro, que dará início à guerra contra os Caminhantes Brancos, terá 1 hora e 22 minutos). A relação cor-de-rosa do casal central Jon-Daenerys (Jonaerys, para os íntimos), por exemplo, foi previsivelmente desestabilizada com a notícia da descendência real dele, mas as consequências ficaram para depois.
O episódio aproveitou a calmaria para explorar antigos e novos pares românticos (Sansa e Theon, quem diria, e Arya e Gendry), talvez como um truque para fazer o público se importar mais com as mortes que virão, se é que virão. Ele ainda dedicou atenção especial à personagem de Christie, que finalmente se tornou um cavaleiro pela espada de Jaime e inclusive deu nome ao episódio – A Knight of the Seven Kingdoms (“um cavaleiro dos Sete Reinos”). Não seria exagero supor que essa tenha sido sua despedida.