O frio nunca incomodou Elsa — e também não é impeditivo para a longa fila de pessoas diante do St. James Theater, no gélido inverno de Nova York. O motivo? Assistir ao gracioso musical Frozen, adaptação do filme de 2013 na Broadway. O público é majoritariamente adulto. Mas são as pequenas “Elsas” e “Annas”, crianças com os figurinos pop das princesas-protagonistas, que roubam os olhares. No início, a produção avisa: não cante junto com os atores. O pedido é um desafio e tanto quando Elsa (Caissie Levy) entoa a chiclete Let it Go, performance ovacionada antes mesmo do fim.
Roteirista dos filmes, Jennifer Lee assina a peça, que ganhou o reforço de novas composições feitas pela dupla Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, vencedores do Oscar por Let it Go. Destaca-se entre elas a humorística valsa com tons de polca Hygge (leia-se “riga”), cantada pelo vendedor de estrada que ajuda Anna — neste número, dançarinos “seminus” correm pelo palco ao sair de uma sauna. A cena nonsense elucida a ligeira transformação na passagem do cinema ao teatro: há pitadas de modernidade — e de uma leve libertinagem. Anna é mais fogosa que sua versão animada; Elsa troca o vestido por confortáveis calças. O elenco abraça a diversidade. Anna é representada por uma atriz ruiva e outra negra, que se revezam. Kristoff é encarnado por atores negros. As ousadias funcionam. Em cartaz desde março de 2018, Frozen soma 142 milhões de dólares em bilheteria — e as vendas de ingressos cresceram com a chegada do novo filme.
A peça faz jus ao termo espetáculo. Efeitos de sonoplastia e projeção de imagens dão o clima de magia. Uma orquestra de 22 músicos — o dobro da média em musicais — evidencia o poderio da grife Disney. A empresa cavou trincheira na Broadway em 1994, com A Bela e a Fera. Outros vieram depois, como Tarzan, Pequena Sereia e Aladdin. O sucesso absoluto é O Rei Leão. Há 22 anos em cartaz, rendeu 8 bilhões de dólares — reinado agora cobiçado pelas princesinhas de Frozen.
Publicado em VEJA de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668