O Festival de Cinema de Cannes, adiado por causa da pandemia de Covid-19, anunciou nesta quarta-feira, 3, uma lista de 56 filmes que poderão usar até 2021 o selo da curadoria de sua equipe, como a logomarca “Seleção Oficial de Cannes”. Entre eles está o brasileiro Casa de Antiguidades, dirigido por João Paulo Miranda Maria e protagonizado por Antônio Pitanga, que vive Cristovam, um operário negro no sul do Brasil que luta contra o racismo sistemático e o conservadorismo da cidade.
Além do racismo, a trama aborda ainda a polarização política que se espalhou pelo país em 2018, com cenas na cidade catarinense Treze Tílias, forte apoiadora do então candidato à presidência Jair Bolsonaro. Vítima de boatos e destrato por parte dos locais, Cristovam é conduzido ao desespero e, no processo, passa a reviver o passado para suportar o presente.
“O filme tem o protagonismo de Antônio Pitanga, com seus mais de 80 anos, interpretando um homem que veio do interior de Goiás e que enfrentará violentamente um grupo ultra conservador no sul do Brasil. Isto o guiará num buraco negro profundo e complexo; que espelha um Brasil que está perdido no tempo, com cara dos anos 70”, diz o diretor Miranda Maria.
A inclusão do filme brasileiro na seleção oficial de Cannes vem na esteira de uma crescente mobilização mundial no combate ao racismo estrutural, cujo estopim foi o assassinato de George Floyd em Minneapolis, nos Estados Unidos, por um policial branco.
Além do brasileiro, a seleção também é composta por grandes filmes como Da 5 Bloods, de Spike Lee, The French Dispatch, de Wes Anderson, Ammonite, de Francis Lee e Soul, de Pete Docter. Cannes aconteceria originalmente em maio, mas foi adiado e, em seguida, teve sua versão física cancelada por causa da pandemia. Os filmes deverão ser distribuídos por outros festivais ao redor do mundo e Cannes ainda se pronunciará sobre como irá operar nos próximos meses.