Cinemas fechados, gravações canceladas, festivais e shows adiados. O mundo do entretenimento tem se virado nos trinta desde o começo do ano passado para tentar amenizar os duros efeitos da pandemia em um mercado que é totalmente dependente de aglomerações, desde a linha de produção até a chegada ao público. Como esperado, o impacto da Covid-19 causou um efeito dominó que agora afeta outra ponta importante do setor: as badaladas premiações hollywoodianas. Na ilusão de que a pandemia estaria sob controle quando suas festas se aproximassem, Emmy, Globo de Ouro, Grammy e Oscar demoraram a bater o martelo sobre eventuais adaptações em seus formatos – o Oscar ainda sonha em fazer parte de sua premiação deste ano, em abril, de forma presencial.
Enquanto o Emmy conseguiu se adaptar ao formato virtual, e extraiu de forma inteligente algum humor da difícil situação pela qual o mundo passa, o Globo de Ouro, exibido na noite de domingo, 28, não teve a mesma capacidade. Em parte, a premiação sofreu pela estafa provocada pelo formato virtual em um mundo apinhado de reuniões profissionais e pessoais feitas por meio de aplicativos como o Zoom. Mas seu principal pecado foi acreditar que, em meio ao caos, conseguiria atrair espectadores para o mundo paralelo em que vive Hollywood.
O tapete vermelho modesto, por onde passaram poucas celebridades enquanto tantas outras exibiam seus looks de gala de casa ou de quartos de hotéis, expôs a futilidade das estrelas que diziam nomes de grifes caríssimas com um sorriso no rosto. Para tentar amenizar essa insensibilidade, o Globo de Ouro aderiu a uma campanha para doar 2 milhões de dólares para pessoas necessitadas, afetadas pela pandemia, e formou uma pequena plateia com trabalhadores essenciais. O esforço se mostrou pífio. Até um esquete em que celebridades faziam consultas virtuais com médicos, que seriam ali homenageados, se mostrou uma bobagem.
Ao fim do programa, a sensação era de desalento: 2021 realmente precisa de premiações do gênero? Em 2008, o Globo de Ouro foi cancelado por causa da greve dos roteiristas de Hollywood – prêmios foram anunciados em uma coletiva de imprensa. Já o Oscar nunca cancelou uma edição, apenas adiou datas em função de tragédias como o assassinato de Martin Luther King Jr., em 1968. Após o fiasco do Globo de Ouro, Grammy e Oscar serão os próximos a tentar provar sua relevância em tempos pandêmicos. Será que vão conseguir?