Assim como cinemas e casas de show, os teatros se encontram fechados desde março, por causa da pandemia. Os rentáveis musicais padecem de um cenário ainda mais complicado. Amparados por uma quantidade exorbitante de pessoas trabalhando nos bastidores e nos palcos, o gênero, que está parado desde o final do ano passado, quando acabaram as temporadas de grandes peças, deve ser um dos últimos a voltar à ativa em sua plena forma.
O Teatro Renault, por exemplo, teve sua última apresentação com a casa lotada em dezembro com o encerramento de O Fantasma da Ópera. Os ensaios para uma nova e misteriosa peça já haviam começado quando a pandemia obrigou o apagar da ribalta e o fechamento das cortinas. Ele não foi o único, o Teatro Alfa já estava com tudo pronto para a estreia de Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate no dia 19 de março quando, dois dias antes, as portas das casas de espetáculos foram fechadas. Para driblar a distância dos palcos, a produtora Lab Cultural fará a primeira edição do Dreamcast, um festival online com mais de 60 atores do ramo e 45 números exclusivos de mais de 30 títulos de musicais nacionais e internacionais. Serão mais de seis horas de música transmitidas online no final de agosto (data a ser definida).
José Toro, idealizador do projeto, diz que a ideia surgiu há dois anos e que pretendia fazer um grande espetáculo presencial. Porém, com a nova realidade imposta pelo coronavírus, houve uma mudança no percurso. “O Brasil emprega mais de 12.000 profissionais nesse segmento que está parado hoje em razão da pandemia. Assim como todo o ramo cultural, nós fomos os primeiros a parar e não temos expectativas de retorno. A Broadway, por exemplo, só voltará no ano que vem. Esse projeto foi feito pensando em todas as famílias dos técnicos de som, camareiras, costureiras, entre muitos outros que estão sem receber seus salários e estão passando por dificuldades. O momento é de união, e a gente entendeu que esse é o melhor momento para lançá-lo”, afirma Toro que vai permitir que os espectadores façam doações durante a transmissão para esses trabalhadores da área.
Entre os atores que participarão do grande espetáculo estão: Alessandra Maestrini (Les Misérables), Tiago Barbosa (O Rei Leão), Kiara Sasso (A Bela e A Fera), Thiago Arancam (O Fantasma da Ópera), Fabi Bang e Myra Ruiz (Wicked), entre outros. A cerimônia será apresentada por Tiago Abravanel (A Pequena Sereia).
As apresentações serão divididas em três momentos: musicais que já passaram pelo Brasil (A Bela e a Fera; Fantasma da Ópera; Wicked; A Noviça Rebelde), musicais brasileiros (Se Essa Lua Fosse Minha; 7 – O Musical; Cazuza; Chacrinha; Elis, a Musical), e musicais que ainda não chegaram ao país (Mean Girls; Hamilton; Frozen; Aladdin; Dear Evan Hansen). Respeitando as restrições do novo protocolo de saúde, os números serão previamente gravados em estúdio — diferente do universo das lives que tomou as redes nos últimos meses. Todas as apresentações serão feitas individualmente, respeitando um intervalo de tempo de pelo menos uma hora entre uma gravação e outra, além da presença de apenas um único músico na sala. O uso de máscaras será obrigatório nos bastidores.
Como o teatro não pode ser feito sem plateia, José Toro vai usar a opinião do público virtual para as performances. Entre os dias 21 e 30 de julho, os fãs de musicais poderão entrar no site do festival e, dentro de um setlist de composições pré-definidas pela produtora, votar em qual artista deverá cantar qual canção. “Será um match escolhido pelo público entre a música e o artista. Assim como um reality show, as pessoas só saberão o resultado na hora”, diz Toro.
Em 2018, o teatro musical no Brasil gerou um impacto econômico de 1 bilhão de reais no país, além de levar mais de um milhão de pessoas ao tetro, segundo estudo feito pela Faculdade Getúlio Vargas.